A Jaula, de João Wainer


A agência EBC relatou, em outubro de 2021, que os indicadores de roubos de veículos cresceu de 2.247 para 2.902 (leia aqui). O país também não apresenta dados de investimento em educação efetivo nos últimos quatro anos e foi também neste período que a desigualdade social se aprofundou como nunca antes (segundo os dados disponibilizados pelo Departamento Intersindical de Estudos Econômicos no ano passado). E olha que vivemos o ''tempo onde o cidadão de bem tanto queria''.

Isto posto, falemos da estreia do jornalista e fotografo João Wainer na direção do longa ''A Jaula''. O thriller psicológico traz Chay Suede como Djalma, um rapaz de origem humilde que encontra um carro de luxo na cidade de São Paulo e que, ao tentar roubar pertences dentro do veículo, fica preso no mesmo. O rapaz tenta de um tudo para sair e acaba até se ferindo gravemente na perna. O dono do veículo, um médico ginecologista interpretado por um Alexandre Nero careca e aparentando mais idade, entra então em contato com o rapaz por meio do próprio sistema do carro. Confessa à ele que tudo foi programado para aprisionar quem tentasse furtar o bem. Irritado, o médico propõe um jogo ao jovem e, apesar de saber de seu ferimento, o mantem preso por horas enquanto conversa com ele. Djalma já está bastante fraco e se mostra não só arrependido como desesperado por estar sem água, comida, ou roupas limpas. O caso é acompanhado pelo noticiário sensacionalista que tem como representante a personagem de Astrid Fontenelle. A apresentadora vive uma espécie de ''Datena'' e incita a população a votar sobre qual deve ser o destino do homem. Ademais, o final desse conflito agoniante é corajoso e traz ainda a policial vivida por Mariana Lima a frente das negociações.

O filme é baseado em casos reais que ocorreram no Brasil e na Argentina, além de ser uma adaptação para o roteiro original do filme argentino, lançado em 2019, ''4x4'', de Mariano Cohn. O texto de Cohn e Gastón Duprat ganha adaptação e tradução por João Cândido Zacharias.

Trailer


Ficha Técnica

Título original e ano: A Jaula, 2022. Direção: João Wainer. Roteiro original: Mariano Cohn e Gastón Duprat. Tradução e adaptação: João Candido Zacharias. Elenco: Chay Suede, Alexandre Nero, Mariana Lima, MAri Moon, Astrid Fontenelle, Domenica Dias e Wallid Ismail. Gênero: Suspense, Drama, crime. Nacionalidade: Brasil. Trilha sonora original: Apollo Nove. Trilha sonora adicional: Mc Guime - Triz -- Tropkillaz. Maquiagem: Emi Sato e Marcos Ribeiro. Figurino: Nicole Nativa. Preparação de elenco: Márcio Mehiel. Montagem: Cesar Gananian. Desenho de som e mixagem: Ariel Henrique. Direção de fotografia: Leo Resende Ferreira. Direção de arte: Billy Castilho. Direção de produção: Marcos Tim França. Produção: Tx Filmes. CoproduçãoStar Original Productions, Cinecolor. Produção executiva: Camila Villas Boas, Eddie Vogtland, Mariano Cohn, Gastón Duprat e Martin Bustos. Produtora: Camila Villas Boas. Produtor associadoRoberto T. Oliveira. Distribuição: Star Distributions. Duração: 01h41min.

O filme é questionador. Nos leva direto ao ponto e não enrola o espectador. Deixa as claras toda a situação. Mostra os eventos conforme eles se dão. Mocinhos se tornam vilões e vilões sequer podem ser considerados vilões. Ainda assim, há peso e culpa para todos os envolvidos. Temos de um lado um pai de família que sem saída para buscar sobrevivência tenta algo que vai contra a lei e do outro um médico revoltado com os frequentes assaltos e roubos que sofreu, além de dilemas pessoais que vem passando e o instigam a punir os que o ferem com as próprias mãos. 

A parte que cabe a Djalma, com certeza, não é a de santo, e o filme mostra as burradas do homem até o momento em que este não tem mais controle da situação. Sem poder pedir socorro aos familiares ou a qualquer pessoa, ele tenta sobreviver meio a ansiedade e ao caos do ocorrido. Por estar ferido, o raciocínio é ainda mais debilitado e o embate com o médico nos momentos finais é de fazer qualquer um pensar muito como a arte tem sim o papel de nos fazer refletir sobre a realidade.




Wainer inicia muito bem sua filmografia. Um enredo forte para conduzir e um elenco dedicado. Chay e Alexandre são os nossos protagonistas e brilham durante os diálogos que nos fazem pensar quem é a verdadeira vítima aqui. Mariana Lima faz um papel de mediadora e mesmo entrando em poucas cenas é sempre certeira. Astrid Fontenelle, que foi uma das pioneiras na MTV, emissora que Chay e Mari Moon também trabalharam, se revela uma ótima ''palestrinha do certo e do errado''.

A tensão do filme é super bem construída. Os passos dessa vingança ''do cidadão de bem'' é medido não só pelo julgamento do espectador, mas também pelo bom resultado do filme. 

Imperdível!

Avaliação: Três tiros no sistema. (3/5)

HOJE NOS CINEMAS

See Ya!

B-

atualizado em 17.02, às 23:49

Escrito por Bárbara Kruczyński

    Comentários Blogger
    Comentários Facebook

0 comments:

Postar um comentário

Pode falar. Nós retribuímos os comentários e respondemos qualquer dúvida. :)