O Nascimento de Uma Nação


Nos últimos anos, temos visto o ódio racial, nos Estados Unidos da América, se levantar de uma forma inacreditavelmente violenta e cruel. Casos onde policiais perseguem negros nas ruas e chegam a matá-los, apenas por um simples fator: a cor de sua pele. Porque sim, para muitos, isto ainda é indicio de que não se seja uma pessoa de bem ou que esteja ao seu nível. Tais acontecimentos têm feito artistas importantes, tanto da música quanto do cinema, saírem do silêncio e levantarem a bandeira de resistência. Algo muitíssimo necessário para conduzir a sociedade à reflexão e o debate sobre essa situação inadmissível. 

Um dos artistas que decidiram entrar na briga e chamar atenção para o caso foi Nate Parker. O ator, que como muitos é multifacetado,pois é também roteirista, diretor e produtor, conheceu a história do revolucionário Nat Turner quando ainda estava na faculdade e desde então o tem como herói. Nate conseguiu levar a jornada do 'pregador de negros' ao cinema e no inicio do ano o exibiu no Festival de Sundance, onde saiu vencedor do grande prêmio do Juri e também da escolha do público. Além disso, o longa teve seus direitos de distribuição comprados pela Fox Films por U$S17.5 milhões. A produção estreou em outubro na terra do Tio Sam e chega ao circuito brasileiro nesta quinta-feira (10). 

Na película, o próprio Parker interpreta Nat Turner. Um escravo que quando criança fora ensinado a ler por seus senhores, contudo, seu único instrumento de leitura era o livro sagrado. Quando cresce, a família Turner incentiva Nat a pregar aos outros negros da fazenda para que àqueles continuem fazendo seu trabalho de  forma produtiva e obediente. Nat usa então seu dom e os versículos adequados para intermediar a ordem na propriedade. Um dia, o reverendo do condado (Mark Boone Junior) motiva o senhor de Nat, Samuel Turner (Armie Hammer), a tirar proveito da situação e usar o escravo para ganhar dinheiro acalmando os negros de outras fazendas. Nat inicia assim uma turnê de pregação por diversos lugares. No entanto, depois de testemunhar inúmeras atrocidades com o seu povo ele decide se rebelar e elabora um plano para libertar os escravos.
 
Samuel Turner (Hammer) e Nat Turner (Parker) em jornada pelo condado.
O filme é deveras comovente, profundo e duro. O público não é poupado de nada. Há tortura, há estupro, há selvageria. Cada um deles ou é mostrado de um jeito cru ou sutil nos levando a entender o que aconteceu. Há ainda romance e há também a beleza da cultura afro. Algumas cenas são de um simbolismo pulsante que fariam falta caso não existissem ali. Todavia, a versão que vemos vem com um corte de vinte segundos, pois o diretor salienta que a exibida em Sundance não estava perfeita. 



O perfeccionismo de Parker, aliás, faz o espectador sentir a intensidade dessa história. Seja por sua direção competente e muito bem afirmada ou por seu roteiro satisfatório, escrito em parceria com Jean McGianni Celestin. Consegue-se transportar para as telas o uso de uma manipulação doentia e equivocada. Algo que começa para o bem de alguns e o mau de muitos. Também solidificam o amor do escravo por sua família e são reais em mostrar a desumanidade dos séculos passados. 

As atuações são pontuais e Parker dá um show. O figurino de Hammer o faz um redneck perfeito tanto quanto outros senhores de negros no filme. Jack Earle Harley e Mark Boone são talvez os melhores em cena, pois engrandecem seus personagens malévolos. As atrizes ali tem de viver situações horríveis e também são espetaculares desde Ana Naomi King e Esther Scott, que interpretam a esposa e a vó de Nat, até as sinhás da família Turner, vividas por Penelope Ann Miller e Katie Garfield. O pequeno Tony Espinosa, faceta infantil do protagonista, é outro que aparece expressivo e sentimental.

Algo intenso no filme é como ele sabe retratar habilmente que esta luta contra o ódio racial continua até hoje e o faz na forma de um personagem responsável por um grande acontecimento nos momentos finais da jornada de Nat.O título da produção é ainda um repúdio a outro filme lançado, com o mesmo nome, nos primórdios do cinema. Um projeto que apoiava com clareza o racismo.


A edição do longa é corretíssima, não prolonga ou enrola o espectador e o mantém atento. Fotografia vem em tons que mudam o tempo todo, mas que demonstram a escuridão destes tempos com primazia. A trilha sonora se preenche com o mundo gospel e entoa cânticos fortes da cultura afro. Além de sintonizar os sentimentos em diversas cenas. 

Segundo a crítica lá fora, ''O Nascimento de Uma Nação'' tem grande chance de estar entre os listados das premiações de 2017 e concordo sem pestanejar com a afirmação.

Trailer



Ficha Técnica: The Birth of a Nation, 2016. Direção: Nate Parker. Roteiro: Nate Parker e Jean McGianni Celestin. Elenco: Nate Parker, Armie Hammer, Penelope Ann Miller, Tony Espinosa, Jack Earle Harley, Mark Boone Junior, Colman Domingo, Aunjanue Ellis, Dwight Henry, Gabrielle Union, Esther Scott, Roger Guenveur Smith, Katie Garfield, Chinké Okonkwo e Chris Greene. Nacionalidade: Eua. Gênero: Biografia, Histórico. Fotografia: Elliot Davis. Trilha Sonora Original: Henry Jackman. Edição: Steve Rosenblum. Distribuidor: Fox Film do Brasil. Duração: 01h50min.
 Faça um favor a si mesmo e vá conferir este filme (leve sua consciência e amigos para lhe confortar)!

Avaliação: Quatro correntes que insistem em não se quebrar (4/5).

 Hoje nos Cinemas!

See Ya!
B-

Escrito por Bárbara Kruczyński

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