A Favorita, de Yorgos Lanthimos


Inglaterra, século XVIII,  a rainha Anne se mostra frágil e enfraquecida por seus dramas pessoais. Para que o reino não afunde de vez, a amiga da monarca, Lady Sarah Churchill a auxilia a tomar decisões e governar a Grã Bretanha com pulso firme. Um belo dia, uma prima distante desta última, a jovem e bela Abigail, chega ao castelo em busca de um emprego. Colocada para realizar serviços domésticos, Abigail se vê cercada de pessoas querendo seu mal. Assim, na hora em que a rainha Anne passa mal, vê o momento como oportunidade e faz de um tudo para o bem estar da realeza. Sua boa ação chama a atenção e ela é posta para ficar ao lado de Lady Sarah como sua serviçal de confiança e é assim que Abigail descobre ferramentas para alavancar seu sucesso e se tornar alguém no reino, enquanto este está em guerra com a França.

Um trio de mulheres fortes interpretam as personagens. Olivia Colman é Anne, Rachel Weisz vive Lady Sarah e o papel de Abigail fica com a atriz norte-americana Emma Stone. A direção fica por conta do diretor grego Yorgos Lanthimos e o roteiro é da dupla Deborah Davis e Tony McNamara

A Favorita recebeu inúmeras indicações em festivais de cinema, arrebatou plateias, ganhou premiações e aparece agora indicado em dez categoria ao Oscar 2019, incluindo a de melhor filme, atriz (Colman), atriz coadjuvante em dose dupla (Stone e Weisz), roteiro original, diretor e outras tantas mais.

No Brasil, a produção pôde ser assistida no Festival do Rio e na Mostra Internacional de São Paulo, ano passado, e agora ele entrará em circuito comercial com distribuição da 20th Century Fox .


Trailer

Ficha Técnica
Titulo original: The Favourite, 2018. Direção: Yorgos Lanthimos. Roteiro: Tony McNamara e Deborah Davis. Elenco: Olivia Colman, Rachel Weisz, Emma Stone, Nicholas Hoult, James Smith, Joe Alwyn, Jenny Rainsford e Mark Gatiss. Gênero: Biografia, Drama, época. Nacionalidade: Eua, Grécia. Trilha Sonora: Robbie Ryan. Fotografia: Robbie Ryan. Figurino: Sandy Powell. Edição:Yorgos Mavropsarids. Distribuição: Fox Film do Brasil. Duração: 02h00min.

O filme passou por tantos festivais bombados (Telluride, Veneza, BFI, Nova York) que foi impossível não prestar atenção e apoiar a campanha da distribuidora para que ele tenha o reconhecimento que merece: um dos melhores do ano, senão o melhor. 

Como uma narrativa simples que cerca três personagens femininas de caráter interessantíssimo, A Favorita não é somente um filme de época. Não mesmo. Ele elucida tanto a parte podre que existe na política mundial (e de um jeito muito atual) como faz questão de ressaltar que mulheres podem sim estar a frente de assuntos relevantes tanto quanto os homens. E estes últimos aqui tem papéis muito coadjuvantes. Aliás, são estes que se prestam a futilidades como passar a tarde atirando comida podre um nos outros.  


Vagamente baseado em personagens da vida real do trono britânico, o filme é escrito por uma dupla que teve muita experiência da tevê, Davis e McNamara. Mas que usa de um estilo conhecido do bom cinema que é quando os atos ganham títulos explícitos para ressoar a ironia que pode ou não acontecerem durante as cenas. Há então uma atenção especial na construção dos diálogos e também nos arcos de cada personagem que venha a se destacar. Desde uma simples serviçal a um dos políticos da casa dos lordes.

Outro aspecto interessante do longa é como a câmera é viva e sagaz. Os takes não lembram em nada outros filmes de época. E até técnicas como 'olho de peixe' são usadas aqui para captar o lindo cenário construído para que essas mulheres sejam o centro de tudo. Ademais, é através deste jogo da filmagem que se parece estar muito próximo dos acontecimentos e não somente do outro lado da tela. 

Com uma fotografia, um figurino e todo um design de produção deslumbrante é necessário ressaltar a imersão completa que sentimos ao assistir a película, pois cada take realmente se compara a um quadro pintado e o posicionamento dos atores em certas cenas são remetidos a isto facilmente. O que também dá alusão do quão profundos eles são por traz de seus meros retratos. A trilha sonora de Robbie Ryan soa com perfeição e não passa batida.


A precisão, o acerto e a dedicação que cada atriz nos presenteia aqui é de sair da sala batendo palmas. Olivia Colman - que esteve em 'O Lagosta' também de Yorgos é conhecidíssima no Reino Unido pelas séries que participou, uma delas a espetacular 'Broadchurch' (disponível no Now da Net). Sua rainha Anne vem de um jeito mega hiper dramático. Melancólica e fraca por seus dilemas, doce em raros momentos e com uma infantilidade que chega a ser risível, se desconstrói em cena e quer ser bajulada por quem a cerca. Ademais, necessitar fazer escolhas que nem ela imaginaria que teria de fazer ao se ver como troféu de uma disputa entre Abigail e Sarah - ambas alucinadas por ter um controle do que não lhe é de direito, contudo, o que querem a qualquer custo: o poder.  A briga, aliás, surpreende o espectador e impõe que ele corra seus olhos de um lado ao outro acompanhando qual das duas está ali para realmente ajudar o reino e qual só quer lucrar com a fraqueza de sua líder.

Stone chega aos pouquinhos e vai crescendo. Nos mostra que é muito mais do que aparenta ser. Sua Abigail vem sem medo, pois já passou por tudo que tinha que passar para dar sustento a família. Também por isto não se atem a jogos de amor e sabe abusar de seu poder feminino para ter o que quer de homens tolos. Por uma obra do destino, descobre que a rainha e sua prima tem segredos entre elas e quer ser parte deles para ganhar o que puder da relação e esta disputa que se torna o grande carro do segundo ato - uma em que a personagem de Weisz parecia não estar levando tão a sério, mas compreende olhando sua inimiga do chão que deveria ter prestado mais a atenção. O único papel masculino que vemos ter relevância é o de Nicholas Hoult. Ele interpreta Harley. Uma cobra peçonhenta que quer dar o bote na casa dos Lordes e se possível tomar o lugar dos aliados de Lady Sarah. Sua jornada no longa vai esquentando a cada passo bem pensado e ele também não deixa de colocar as cartas na mesa e tenta, em certo momento, puxar Abigail para o seu lado. E luta contra quase todas as imposições de Sarah, seja a respeito dos impostos ou da guerra. E quando vê oportunidades, as persegue com vigor. 

Os homens ganham maquiagem, salto e papéis fúteis de uma forma muito crítica
Um drama político que mostra claramente o desejo humano de estar no poder não importa como.
Imperdível.

AvaliaçãoCinco sacos de ambição (5/5 ).

Hoje nos cinemas

See Ya!











B-

Escrito por Bárbara Kruczyński

    Comentários Blogger
    Comentários Facebook

0 comments:

Postar um comentário

Pode falar. Nós retribuímos os comentários e respondemos qualquer dúvida. :)