Os Miseráveis


O diretor Ladj Ly conhecido como o novo "Spike Lee francês" nos traz uma França sob uma ótica diferenciada. Esta que é então permeada de preconceitos raciais e desníveis sócio-econômicos, longe do romantismo visto no cinema em geral. É como se tivéssemos um pais visto por um viajante destemido que arriscou encarar um trajeto fora do roteiro pré determinado e adentrou o lado B - sofrido, escuro, violento e desigual. Algo que um turista que procura a bela, harmônica e iluminada frança pouco encara.

A imagem criada para a exportação não é a mesma vista por Ladj Ly. E exatamente por isso o longa nos prende por 1h 42 minutos.

Trailer

Ficha Técnica
Título original e ano: Les Misérables, 2019. Direção: Ladj Ly Roteiro: Alexis Manenti,  Ladj Ly e Giordano GederliniElenco: Damien Bonnard, Alexis Manenti, Djibril Zonga, Issa PericaAl-Hassan LySteve TientcheuAlmamy KanoutéNizar Ben FatmaRaymond LopezLuciano LopezJaihson LopezJeanne BalibarSana JoachaimLucas OmiriRocco Lopez. Gênero: Suspense, crime, drama. Nacionalidade: França. FotografiaJulien PoupardEdição: Flora Volpelière. Figurino: Marine Galliano. Distribuição: Diamond Films. Duração: 01h42min.  
Os Miseráveis nasceu de um curta metragem feito em 2017 e aquele recebeu indicação de 'Melhor Curta' ao Cesar, Festival de renome que é considerado o Oscar Francês. 

Como primeiro longa metragem do ousado diretor outra vitória alcançada foi a apresentação do filme em Cannes, e a mesma atraiu olhares, chegando a levar o Prêmio do Juri junto com o nosso BACURAU.

O título "Os Miseráveis" nos remete à obra clássica de Victor Hugo e não é por acaso. Ambientado na periferia da região de Paris e nos motins e episódios de violência ocorridos em 2005, quando após a perseguição pela polícia e um incidente com jovens, a revolta se instalou. O confronto se espalhou rapidamente pela região e os embates duraram dezenove noites consecutivas. Na película tudo acontece na comunidade de Gavroche (que traduzindo para o português significa criança travessa) outra referência ao célebre personagem de Victor Hugo. 


As cenas iniciais mostram um jogo de futebol e a torcida unida assistindo e vibrando por um país único é o ponto de contraste para o que está por vir. Aliás, a utopia da igualdade acaba aí.

Cada grupo ou facção administra sua área e gerencia as tréguas a sua maneira. Cristãos e muçulmanos, brancos e negros, crianças e adultos, polícia e comunidade. Cada qual têm ''os seus acertos'' para continuar sobrevivendo em paz. Um filhote de leão simboliza a Lei da Selva que impera.

O cenário violento é mostrado pelos olhos do jovem policial Stéphane (Damien Bonnard) que foi transferido para Montfermeil para se juntar ao esquadrão anti crime da comuna. Seus parceiros serão Chris (Alexis Manenti) e Gwada (Djibril Zonga), dois oficiais que vivem no local, estão inseridos na realidade violenta e portanto usam métodos nada convencionais de trabalho.

O novato, que até então não tinha um perfil violento, precisa se adaptar, pois tem um filho para criar. 


A marginalização do mais fraco se dá em ambos os lados, pois a sobrevivência aqui não é apenas do mais forte, mas principalmente daquele que se adapta.

Os desníveis sociais, o racismo, a violência que existe nos cantos sombrios da cidade luz são abordados de forma dramática e humana. Não existe bandido ou mocinho, tanto polícia como comunidade sofrem a pressão de uma realidade cruel. As chamadas "crianças" perdem a inocência para não morrer, enquanto o policial durão chora no colo da mãe ao final do dia.

São cenas fortes e chocantes que fazem o público refletir sobre como decorridos tantos anos após o clássico de Victor Hugo ainda vivemos a mesma realidade.

E temos assim uma história atemporal e densa de uma França sem glamour algum e que o público deve correr para conferir.

Os Miseráveis recebeu uma indicação ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro e concorre a estatueta no próximo dia 09 de fevereiro.

HOJE NOS CINEMAS

Escrito por Helen Ribeiro

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