Hypnotic - A Ameaça Invisível, de Robert Rodriguez | Assista nos Cinemas


Este texto contêm spoilers

O roteiro inicial do thriller cheio de ação e mistério Hypnotic - A Ameaça Invisível ganhou seu primeiro rascunho em 2002 pelas mãos de seu diretor, Robert Rodriguez (Sin City, Spy Kids). Assim, quando a produção saiu do papel, os argumentos de Rodriguez foram reescritos por Max Borenstein. A película faz o que ela se propõe a fazer nos seus 94 minutos de duração, trazer questionamentos ao espectador. O primeiro deles é o mais óbvio, se o filme pode ou não surpreender, afinal, com uma proposta que não é assim tão original e que brinca em território já desbravado, ela não exatamente aprofunda nada. As relações dos personagens são confusas, o que pode se misturar ao conceito do filme, pois a narrativa traz alteração da realidade nos acontecimentos e a temática acaba perdendo o brilho que poderia apresentar.

No entanto, o trabalho de Ben Affleck (A garota exemplar) como o detetive Daniel Rourke vem acentuado e condizente, o que pode ser visto como um ponto positivo ao longa. No filme, Affleck vive um homem que luta para esconder suas verdadeiras emoções, sentimentos e intenções - o que é ótimo, porque ele não é tão sagaz em demonstrar vulnerabilidade. Portanto, interpretar um cara torturado por ter perdido um familiar e que busca em seu trabalho se distrair das memórias, enquanto busca justiça, é mais do que esperado que ele não saia do roteiro. 

Na trama, somos introduzidos ao personagem de Affleck numa sessão de terapia. No lugar, o homem participa de um procedimento de hipnose de forma sutil. Rourke está visivelmente distraído, preso em uma memória que vai encaminhar quem assiste aos acontecimentos que o levaram até ali. Enquanto isso, a terapeuta parece fazer gestos calculados - que passam despercebidos a todos - com a caneta. Ela o pede que descreva a memória que o está incomodando. Rourke então detalha como estava feliz, no parque com sua filha, e que ao se distrair momentaneamente, a garota sumiu. O que acontece é que a menina fora raptada nesse dia, e o suspeito negou saber o paradeiro dela, ou como se envolveu nessa história. O caso ficou nacionalmente conhecido, e a vida desse pai nunca mais foi a mesma. Tendo sua rotina dividida entre o trabalho e as rápidas sessões que o auxiliam a superar as memórias que o atormentam.

                                                                                            Créditos: Diamond Films Br/Divulgação
Assim como em diversos projetos de Rodriguez, seus familiares, desta vez os filhos, Rebel (trilha sonora), Rhiannon (storyboards), Racer Max (produtor) e Sid (efeitos especiais) estão na equipe do filme.

Mas nem tudo é o que parece. E o caso ocorrido em sua vida ganha outras proporções quando uma perseguição pessoal se dá em seu trabalho, onde quase nada é o que parece ser. Uma denúncia anônima acaba o levando a encontrar a foto de sua filha num cofre que foi roubado, com o nome Dellrayne, que seria um homem misterioso, interpretado por William Fichtner (Armagedom e Watchmen). Fichtner com toda a sua vasta experiência profissional, consegue segurar sua atuação, por menor que ela seja, e principalmente, por mais caricato que o personagem venha a ser.

Ao rastrear a ligação anônima, Rourke acaba chegando a uma mulher chamada Diana Cruz, que é vivida por Alice Braga (Eduardo e Mônica, Soul, Cidade de Deus), e ela revela à ele, que Dellrayne e ela são hipnóticos, pessoas que controlam a realidade a partir de um treinamento realizado por um programa do governo - A Divisão. E assim, Rourke segue com Diana, atrás de entender o que Dellrayne tem a ver com o sumiço de sua filha.

O filme conta com três atos, um no qual Daniel Rourke está lidando com o que restou da vida dele, o segundo no qual Diana o leva em uma jornada de perseguição do maior hipnótico que já existiu, Dellayne. E a terceira, onde tudo o que foi visto até agora não era real.
                                                                                       
                                                                                            Créditos: Diamond Films Br/Divulgação
Ben Affleck e William Fichtner voltam a trabalhar juntos depois de 25 anos. Os dois se encontraram em cena pela primeira vez em Armageddom (1998).

É interessante ver que tentaram juntar Alice e Ben como um casal no meio de todos esses atos e perseguições, e quebras de expectativa de realidade na história. Entretanto, apesar da atuação sempre impecável de Alice, os dois não têm química juntos. O que não seria um problema, já que, fora a descoberta de que os dois são casados, só existe uma cena de fato de uma aproximação mais romântica e sensual entre a dupla. E é a cena que nos leva ao terceiro ato onde descobrimos que Daniel Rourke escondeu a filha, inclusive de si mesmo, enganando e reiniciando a sua mente, quando fazia parte da Divisão.

Em certo momento da jornada, o espectador poderá se perguntar se a linha tênue entre o que é real e o que não é pode ser quebrada não só para Rourke, mas para quem assiste o filme. E apesar de porcamente executado, isso acontece, a audiência se vê dentro de uma realidade onde nada do que foi visto de fato aconteceu. E que pouco sabemos sobre a história contada por Diana Cruz, e o ponto de vista de Daniel Rourke.

O filme não tem tanto fôlego para os atos finais, e mesmo entretendo, não é crível na execução de Daniel como um grande hipnótico, que escondeu a filha do programa, por ela ter uma habilidade natural poderosíssima. O grande final, que funciona quase como um quarto ato, é uma bagunça, e a sensação era de que o diretor queria voltar para uma continuação. A impressão é que vem à memória incontáveis filmes que brincaram com a ideia de manipular a realidade e a verdade através da memória de alguém, e conseguiram chegar ao objetivo satisfatoriamente, melhor do que este. Filmes como A Origem (2010) de Christopher Nolan, e até mesmo, Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças (2004), de Michel Gondry, vêm à mente.

Trailer


Ficha Técnica
Título original e ano: Hypnotic, 2023. Direção: Robert Rodriguez. Roteiro: Max Borenstein. Elenco: Robert Rodriguez, Alice Braga,  Jd Pardo, Jeff Fazhey , Dayo Okeniyi, Jackie Earle Haley, Zane Holtz, William Fitchtner, Ruben Javier Caballero. Gênero: Ação, Mistério, Thriller. Nacionalidade: EUA. Trilha Sonora Original: Rebel Rodriguez. Edição: Robert Rodriguez. FotografiaPablo Berron e Robert Rodriguez. Direção de Arte: Paul Alix. Design de ProduçãoCaylah Eddleblute e Steve Joyner. Efeitos Especiais: Sid Rodriguez. Produção: Racer Max, Guy Botham e Robert Rodriguez. Distribuição: Diamond Films Br. Duração: 01h33min.
EM EXIBIÇÃO NOS CINEMAS

Escrito por Amanda Karolyne

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