Los Colonos, de Felipe Gálvez Haberle | 47 ª Mostra SP


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Os olhos são as janelas da alma. Isso fica muito explícito nesta produção de uma hora e meia. Nos olhares dos atores vemos a desconfiança, o ódio, o medo, a desesperança, o racismo. E nesses cruzamentos de miradas, vai-se construindo uma história muito dolorosa sobre a construção dos países da América Latina.
O filme, primeiro longa-metragem do diretor Felipe Gálvez Haberle, se passa na Terra do Fogo, no Chile do século XIX. No extremo sul das Américas, é uma região ainda fortemente povoada pelos povos originários, os indígenas, que com suas aldeias atrapalham os planos do latifundiário Menéndez (Alfredo Castro), o rei das ovelhas do lugar, dono de uma terra maior que muitos países na região.
Em um território sem lei, assim como em um western norte-americano, Menéndez incumbe o seu capataz MacLennan (Mark Stanley) de encontrar uma rota segura para o transporte de seus ovinos até o Oceano Atlântico, numa estrada que sairá do Chile e chegará à Argentina. Para essa jornada, MacLennan irá acompanhado, por sua escolha, do mestiço indígena Moreno (Mariano Llinás) e, por imposição do patrão, do pistoleiro americano Bill (Benjamin Westfall). Estes homens que se odeiam começam sua cavalgada de vários dias numa Patagônia inóspita e bela, hostilizando-se mutuamente e espalhando muitas atrocidades à sua volta. Numa visão decolonialista da história sul-americana, a violência destes tempos é mostrada explicitamente, com assassinatos, estupros e muito sangue. Há sequências que são insuportáveis de tão cruéis - acontecimentos que para o espectador brasileiro não voa longe de sua realidade, pois o genocídio dos povos originários continua ocorrendo impunemente, sendo noticiada diariamente nos jornais da nossa bananaland.
Trailer


Ficha Técnica
Titulo Original e ano: Los Colonos, 2023. Direção: Felipe Gálvez Haberle. Roteiro: Felipe Gálvez Harbele e Antonia Girardi. Elenco: Camilo Arancibia, Mark Stanley, Benjamin Westfall, Alfredo Castro, Marcelo Alonso, Sam Spruell, Mariano Llinás. Gênero: Drama, História. Nacionalidade: Chile, Argentina, Reino Unido, Suécia, França, Dinamarca, Taiwan e Alemanha. Trilha Sonora Original: Harry Allouche. Departamento de SomTu Duu-Chih, Tu Tse Kang. Design de ProduçãoSebastián Orgambide. EdiçãoMatthieu Taponier. FotografiaSimone D’Arcangelo. Distribuição: Mubi. Classificação: 16 anos. Duração: 0137min.
A aventura dos três “heróis” acaba tragicamente. O filme dá um pulo no tempo e vê-se o outro lado. Em vez dos colonizadores brutos, o espectador agora assiste as negociações civilizadas entre o Menéndez e o político chileno Vicuña (Marcelo Alonso) para salvar a história da fundação do Chile. Afinal, lã manchada com sangue não vende. É necessário se maquiar o que ocorreu! Nestas sequências, os relatos dos crimes do MacLennan horrorizam pela crueldade.
Coletando depoimentos dos povos originários, Vicuña vai ao encontro do mestiço Moreno, agora um pescador que, acompanhado de sua esposa encontrada na antiga jornada, habita em uma cabana numa das ilhas da Terra do Fogo. Entre os relatos angustiantes dos crimes cometidos, Vicuña quer limpar a história com fotos deste casal originário, tomando chá calmamente na porta de casa.
                                 Créditos: Divulgação 47ª Mostra SP  
Indicado a mais de dez prêmios em Festivais ao redor do mundo e ganhador de sete deles.

Kiepja (Mishell Guaña), a esposa, faz uma das grandes cenas deste filme. Apenas com o olhar, demonstra todo o sofrimento, o ódio, o medo, a dignidade e a resiliência de todos os oprimidos desta América do Sul tão bela e tão sofrida. A cena dela sendo forçada a demonstrar tranquilidade, tomando educadamente o chá, é um dos frames mais sofridos que já assisti. Remete às fotos brasileiras das escravizadas africanas amas com as crianças brancas, quanto medo, ódio, dignidade e sofrimento em uma imagem!
Produção vencedora do Prêmio da Crítica da seção Um Certo Olhar do Festival de Cannes 2023 que está disponível na programação da 47ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Na certa um grande filme e uma obra que traz indignação.
Nota: 9/10.
Vinheta da Mostra

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Escrito por Marcelino Nobrega

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