O Crime é Meu, de François Ozon | Assista nos Cinemas


Longa de abertura do Festival Premiers Plans D'angers, em janeiro deste ano, ''O Crime é Meu'', do renomado diretor François Ozon (Peter von Kant, Verão de 85 e Potiche) chega trazendo muita pauta feminista para debate e com muita comédia para conquistar até os mais machistas dos machistas. Uma trama que entrega tudo e mais um pouco e é o mais novo lançamento da Distribuidora Imovision

No elenco, as estreantes Nadie Tereszkiewicz e Rebecca Marder interpretam as protagonistas, a dupla Madeleine Verdier e Pauline Mauléon. Verdier é uma atriz em ascensão em busca de um grande papel que se vê presa após ser acusada de matar o famoso produtor de teatro Montferrand, vivido por Jean-Christophe Bouvet, e Mauléon é uma advogada com mil e tantos casos a resolver, mas também sem nenhum dinheiro para o aluguel, que ajuda a amiga a se livrar das grades, pois esta diz ter apenas se defendido das garras de Montferrand. Sem qualquer trocado ou posses, elas estão para ser jogadas na rua, pois devem muitos meses de aluguel. Verdier até tem um casinho com o herdeiro André Bonnard, papel de Édouard Sulpice, mas não recebe notícias muito boas de seu amado quando este diz que o pai o quer casado com uma outra mulher e ele teve de aceitar a tarefa. Além delas, a produção conta ainda com a oscarizada Isabelle Huppert como Odette Chaumette, uma atriz decadente que entra na história trazendo verdades não tão necessárias a comprovação da inocência de Verdier, e Dany Boon  como o ricaço Ferdinand Palmeréde, um super interessado na morte do produtor de teatro já que com o ocorrido, consegue eliminar uma super divida que possuía com o homem.

''Mon Crime'', título original do filme, tem produção da Mandarim Films e Foz e co-produção da Gaumont, France 2 Cinéma, Playtime e Scope Picture e estreou na França no último 08 de Março, dia Internacional da Mulher.

Trailer

Ficha Técnica

Título original e ano: Mon Crime, 2023. Direção: François Ozon. Roteiro: François Ozon e Phillipe Piazzo - baseado na peça de Georges Berr e Louis Verneuil. Elenco: Nadia Tereszkiewicz, Rebecca Marder, Fabrice Luchini, Isabelle Huppert, Dany Boon, André Dussollier, Jean-Christophe Bouvet e Édouard Sulpice. Gênero: Comédia, Crime. Nacionalidade: França. Direção de fotografia: Manuel Dacosse. Direção de Arte: Stephanie Laurent Delarue. Trilha Sonora Original: Philippe Rombi. Edição: Laure Gardette. Produção: Eric Altmayer, Nicolas Altmayer. Duração:  115 min
É 1930 e um crime cometido contra a vida do produtor de teatro Montferrad acaba chocando a todos. O delegado, Gustave Rabusset (Fabrice Luchini) está na caça do assassino e a última pessoa vista com ele é a senhorita Madeleine Verdier. A moça é chamada para interrogatório e sua amiga, a advogada Pauline Mauléon, insiste que ela vá, pois testemunhas recebem dinheiro para dar depoimento. Contudo, ao entender que ela é a principal suspeita, sua advogada a induz a dizer ter cometido o crime para que estas usem o caso como legitima defesa e que a Senhorita Verdier use o momento para alavancar sua carreira de atriz. As duas conseguem então provar a inocência de Madeleine e uma reviravolta maluca chega a vida de ambas. Se Verdier começa a receber inúmeras cartas de apoio e papéis para atuar, Pauline também ganha inúmeros casos para defender. Não somente isto, mas o ocorrido causa um grande frisson no país e até desperta em algumas mulheres a vontade de matar o cônjuge e usar o mesmo argumento de Madeleine.

A Senhorita Verdier não só ganha o caso, fama e dinheiro, como consegue que seu amado a veja com outros olhos e tente casar com ela com a benção de seu pai, o dono de uma grande empresa de pneus, Sr. Bonnard (Andre Dussollier). Sabendo ela que a morte de Montferrad foi de grande ajuda ao Senhor Palmarède, pede que ele a auxilie em baixar as guardas do futuro sogro e fale bem dela ao homem, o que acontece de bom grado da parte do ricaço. O que Madeleine, Pauline e até o delegado responsável pelo caso não esperava é que o assassino realmente fosse aparecer no último segundo e quisesse tomar para si a culpa de tudo. Assim, as reviravoltas do enredo ganham um nível de absurdo e eloquência ao mesmo tempo que só indo conferir para saber todo o desenrolar...

Créditos: Mandarim Films e Foz
As filmagens do longa ocorreram entre abril e  junho de 2022 em Paris e também na Bélgica.

Baseada na peça de Georges Berr e Louis Verneuil, O Crime é Meu (que tem leve semelhança as tramas de Confissão de Mulher, de 1937, e A Mentirosa, de 1946, pois ambos também são adaptações do texto de Berr e Verneuil) impressiona pela perspicácia e destaque ao papel feminino nos anos 30. Faz críticas sérias ao machismo sempre existente e dá armas para que as mulheres na trama o destrua em pedacinhos. Assistimos uma tentativa de ''abuso'' por parte de um famoso produtor, algo que virou uma super causa nos dias atuais com o movimento ''ME TOO'', ser o fio condutor da narrativa e a partir dai o espectador é levado a reconhecer que as mulheres sabem lutar contra abusos e lidarem bem com situações onde são as vitimas. Com inteligência e oportunidade, as protagonistas fazem suas causas ganharem apoiadores e tomam as rédeas da situação. Assim, a temática também trata de relacionamentos extra-conjugais - afinal, o pretendente de Madeleine, a julgar que sua família o queria casado com uma ''também herdeira'', informa que a fará de ''amante'' e a moça não aceita o papel de segunda opção. Também traz com comédia a situação de mulheres independentes tendo que conviver com maridos muito grudentos. Tem se uma enorme bolha em volta da arte e de como o papel da mulher dentro dela é tido desde os primórdios, mas reverte bem as lideranças e traz o homem como ''tolos'' a que são ludibriados pelo próprio machismo.

O elenco é sublime e a dupla Nadia Tereszkiewicz e Rebecca Marder, vistas anteriormente em ''Les Amandiers '' (2022) e ''Simone, Le Voyage du Siècle''(2021), arrasam muito. Entregam força, sororidade e constroem na tela uma linda amizade entre mulheres. O papel da inenarrável Isabelle Huppert é baseado na atriz de teatro francesa Sarah Bernhardt, falecida em 1923, e mais uma vez temos em cena uma sensacional performance.

A contar que esta seria a terceira comédia de François Ozon depois dos trabalhos ''8 Mulheres'' (2002) e ''Potiche'' (2010), o diretor se mostra ainda mais preciso. Isto porquê usa uma temática altamente relevante com elegância e leveza dando ao espectador muitos minutos para sorrir com consistência e crítica. Se este for do sexo feminino então, sairá da sessão muito inebriado. 

Avaliação: Cinco armas para o sucesso (5/5).

HOJE NOS CINEMAS

Escrito por Bárbara Kruczyński

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