As Bestas, de Rodrigo Sorogoyen | Assista nos Cinemas


Estudo quase antropológico dos camponeses da Galícia em um mundo rural dominado pela ganância, xenofobia e crueldade, o filme apresenta um caso real ocorrido na Espanha (temática do também filme ''Santoalla'', de 2016). Dirigido num estilo quase documental pelo espanhol Rodrigo Sorogoyen, já indicado ao Oscar pelo curta-metragem Madre em 2019, o longa ganhou os prêmios de melhor filme, direção, ator, ator coadjuvante, roteiro original e várias outras categorias técnicas no Goya Awards 2023, honraria máxima do cinema espanhol, exemplificando a importância do longa-metragem neste momento específico da Europa.
No embate entre galegos nativos e franceses recém-chegados, emoldurado pelas belas paisagens deste recanto da Espanha. o meio rural explode em um crescendo de tensão e violência entre duas famílias vizinhas, com resultados trágicos. Falado em francês, espanhol e em galego, muito próximo ao português, a hostilidade dos irmãos da Galícia, região que se localiza a noroeste da península Ibérica, Xan (Luis Zahera) e Lorenzo (Diego Anido) contra o casal francês Antoine (Denis Ménochet) e Olga (Marina Fois) inicia-se por causa da recusa dos estrangeiros recém-chegados em ceder suas terras para a montagem de torres eólicas. Ambas as famílias sobrevivem a duras penas do árduo trabalho no campo e a venda das terras poderia solucionar os problemas financeiros de todos.
O que se inicia com piadas xenofóbicas, chistes de bar, brincadeiras ao carro, vai se exacerbando num ritmo galopante até chegar a um assassinato, típico das bestas do título. Essa violência é mostrada com toda sua brutalidade numa sequência muito bem montada e encenada, com uma trilha sonora impecável, que remete à primeira cena do filme, do trato com animais por ocasião da castração. Assim acaba o primeiro ato do filme, muito centrado nas figuras de Antoine e Xan, os dois machos que lutam para defender suas famílias e seus ideais. 
No segundo ato, a ótica passa a ser feminina. A viúva Olga está sozinha cuidando da propriedade rural e procurando o corpo do marido nos momentos de folga. Sem apoio da polícia espanhola, tentando ser ludibriada pelos galegos por ser uma mulher sozinha, ela resiste, mesmo sofrendo pressão por parte de sua filha Marie (Marie Colomb) para que retorne à França. Nessa teimosia em ficar e seguir o sonho do marido, demonstra todo seu amor por Antoine, o que acaba comovendo Marie.
Trailer

Ficha Técnica
Título Original e ano: As Bestas, 2022. Direção: Rodrigo Sorogoyen. Roteiro: Rodrigo Sorogoyen e Isabel Peña. Elenco: Denis Ménochet, Marina Foïs, Luis Zahera, Diego Anido, Marie Colomb, Luisa Merelas, José Manuel Fernández Blanco, Federico Pérez Rey, Javier Varela. Gênero: Drama, Suspense. Nacionalidade: França e Espanha. Direção de Fotografia: Álex de Pablo. Desenho de Produção: Jose Tirado. Trilha Sonora: Olivier Arson. Montagem: Alberto del Campo. Figurino: Paola Torres. Produção:  Ibon Cormenzana, Ignasi Estapé , Anne-Laure Labadie, Jean Labadie, Nacho Lavilla, Thomas Pibarot, Rodrigo Sorogoyen, Jérôme Vidal, Eduardo Villanueva. Distribuição: Pandora FilmesDuração: 137 minutos.
Entre os detalhes brutais desse crime horrível, temas caros à comunidade europeia são debatidos, como a xenofobia entre os países, o desaparecimento das antigas tradições, o amor pelo cultivo à terra, a pobreza de quem opta pelo meio rural e a ganância das multinacionais. Todos esses assuntos imiscuído nas linhas dos diálogos, sem panfletarismo ou nada parecido. Num estilo quase documental, com muitas sequências filmadas na luz natural, e cenas detalhistas do trato com o solo e com os animais, o filme, no seu ritmo pausado, mostra uma Europa rural, com homens e mulheres simples, as bestas, que matam e morrem por suas terras e convicções, bem distantes dos seus compatriotas urbanos, em vidas confortáveis nas belas cidades.
Créditos: Pandora Filmes
O primeiro filme de Rodrigo Sorogoyen a ser exibido no Festival de Cannes
Magnificamente bem interpretados, todos os personagens brilham face a atuações naturalistas e sem tiques. A emoção é criada pelo próprio desenrolar trágico da história. A trilha sonora pontuando o crescendo da violência faz-nos estremecer frente à irracionalidade das bestas, que somos todos nós, quando precisamos nos defender. Nos cinemas de várias capitais, esse belo e violento filme, que desperta várias pautas para reflexão, deve ganhar a sua atenção!
Nota: 7/10
HOJE NOS CINEMAS

Escrito por Marcelino Nobrega

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