Beau Tem Medo, de Ari Aster | Assista nos Cinemas

 

Ari Aster é o famoso diretor americano de terror de Hereditário (2018) e Midsommar (2019). Sempre descobrindo novas vertentes do gênero, mais uma vez ele não decepciona e nos revela o petardo genial que é Beau Tem Medo, um inquietante filme de três horas de duração e estrelado pelo maravilhoso e premiado ator Joaquin Phoenix.

O terror agora não é um mascarado portando uma faca ou um livro amaldiçoado que conjura demônios. Os pesadelos, agora mostrados na tela grande do cinema, são as fobias e medos mais íntimos, aqueles que não deixam dormir à noite e que causam crises de ansiedade e paranoia. O diretor e também roteirista Ari Aster faz do personagem principal Beau (Joaquin Phoenix) um poço de neuroses e viver na pele dele por três horas é uma descida ao infernos, mesmo que com uma pitada de humor, surrealismo e nonsense.

Esta mistura de gêneros é o diferencial desse filme. Vê-se aqui um Fellini fazendo horror. As situações absurdas e angustiantes vão se sucedendo; o pavor escalando notas dramáticas e cômicas ao mesmo tempo; o pesadelo de ser Beau afligindo cada vez mais, até o final horripilante, de desespero total.


Trailer


Ficha Técnica
Título original e ano: Beau is Afraid, 2023. Direção e Roteiro: Ari Aster. Elenco: Joaquin Phoenix, Patti LuPone, Amy Ryan, Nathan Lane, Nathan Lane, Denis Ménochet, Kylie Rogers, Parker Posey, Zoe-Lister Jones, Bill Hader. Gênero: Terror, Comédia e Drama. Trilha Sonora Original: The Haxan Cloak. Fotografia: Pawel Pogorzelski. Edição: Lucian Johnston.  Design de Produção: Fiona Crombie. Distribuidora: Diamond Films Brasil. Duração: 175mn.

Beau é um cinquentão solitário e cheio de paranoias que vai visitar a mãe nos próximos dias. Corroído pela culpa e pelo medo, precisa da ajuda constante de um psicólogo e de remédios controlados para se manter são. Para confortá-lo, o médico receita uma droga farmacêutica, recém chegada ao mercado. Nessa noite em que começa a tomar o novo remédio, Beau não consegue dormir incomodado pelo vizinho, que reclama de um barulho inexistente. Acordando apressado e prestes a perder o voo, o filho pródigo que retorna à casa tem a chave do apartamento e a mala roubadas na porta do seu apartamento. Angustiadíssimo, avisa à mãe que não poderá ir, notícia que não é bem recebida pela matriarca Mona (Patti LuPone).

A partir daí, o pesadelo que é a vida desse paranoico piora numa escala épica. Sem chave, precisa sair para comprar água para tomar o remédio e deixa a porta do prédio encostada, convite para os moradores de rua invadirem sua habitação e destroçarem seu apartamento. De volta para casa, ligando para sua mãe, descobre que ela faleceu num acidente horrível. Fugindo de um invasor que estava no teto do seu banheiro, é esfaqueado por um louco e atropelado por um casal simpático e estranho Grace (Amy Ryan) e Roger (Nathan Lane). Fugindo do casal, após o suicídio da única filha adolescente e também esquizofrênica Toni (Kylie Rogers) acaba encontrando na floresta uma mágica trupe itinerante de teatro, onde tem uma viagem lisérgica e animada digitalmente, em que se casa, tem filhos, perde tudo e acaba reencontrando os filhos após muitas décadas perdido num país estrangeiro. Finalmente voltando para casa, encontra uma namoradinha de sua adolescência, a mãe morta e ressuscitada, o pai (um pênis gigantesco e monstruoso) e um julgamento em praça pública, numa enorme arena, onde é condenado à morte.

Créditos: Divulgação
Ari Aster exibiu o filme ao seus fãs  com uma pegadinha em 01 de abril deste ano. O publico que comprou ingressos para ver a versão de corte de diretor de Midsommar (2019) e viu no lugar, e um mês prévio ao seu lançamento, Beau Tem Medo.


Não entendeu nada? Não precisa. A jornada de Beau é uma viagem às neuroses, fobias e paranoias da vida cotidiana. Mães e pais, vida sexual, violência nas cidades, vizinhos, estranhos encontrados na rua, tudo é fonte de medo e angústia, até o final, que é a morte. Beau é você, sou eu, somos nós. O medo permeia as vidas contemporâneas, esse é o verdadeiro horror.

Com personagens maravilhosos, como num filme de Fellini, as três horas que duram o filme passam rápido. A sucessão de cenas surreais deixa o espectador inquieto e angustiado, o riso frouxo em algumas cenas é acompanhado também pelo esgar do pavor. Excelente filme, calcado na ousadia e no inusitado, é uma excelente pedida para se assistir nos cinemas. Hollywood criativa nem sempre acontece, aproveitem! Que novos filmes do Ari Aster apareçam, é um dos grandes diretores contemporâneos! Assistam!

Nota: 9/10
EM EXIBIÇÃO NOS CINEMAS

Escrito por Marcelino Nobrega

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1 comments:

Pseudokane3 disse...

Ah, gostei do texto. Fiquei com muita vontade de ver. Tanta gente falando mal e tu nos incitaste deveras. Parabéns!

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