Evidências do Amor, de Pedro Antônio | Assista nos Cinemas


O louvor a sofrência de se estar apaixonado ''Evidências'', composição de José Augusto e Paulo Sérgio Valle, que data de 1989, e muita gente acredita ser da dupla Chitãozinho & Xororó que a fez ser sucesso nas rádios em 1990, ganhou uma mega homenagem fílmica com a produção dirigida por Pedro Antônio ''Evîdências do Amor''. Com roteiro assinado por Álvaro Campos, Luanna Guimarães, Fábio Porchat e o próprio Pedro Antônio, a comédia romântica segue uma fórmula Hollywoodiana onde mocinho e mocinha se conhecem, terminam e durante ''um processo de realismo mágico cibernético'' retornam ao passado para rever suas memórias juntos. Ele, as ruins, ela, as felizes. O filme não chega a ser excelência como ''Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças'' [Michel Gondry, 2004], mas é tão agradável quanto ''Uma Questão de Tempo'' [Richard Curtis, 2013], ''E Se Fosse Verdade'' [Mark Waters, 2005] ou ''De Repente 30'' [Gary Winick, 2004] e até ''O Homem do Futuro'' [Cláudio Torres, 2011]. A trama é protagonizada pela multiartista Sandy e pelo ator, roteirista, apresentador e comediante Fábio Porchat que se enquadram no típico casal hetero padrão e convencem pela química em cena.

Os primeiros takes da película evocam o grande significado de ''Karaokê'' que a música do título têm e a ressoam por toda a produção como uma ''quase-personagem'', afinal, ela é a chave motivadora para que Marco Antônio (Fábio Porchat) e Laura (Sandy) retornem ao passado. O término do casal se dá pela insegurança da mulher em continuar uma relação onde o homem tem uma voz mais decisiva e de pouco respeito as suas escolhas ou tempo, ademais, seu espaço é a todo tempo invadido. Para Marco, rever suas atitudes com a ex significa um aprisionamento por não poder seguir a vida, ao mesmo tempo que o programador de apps começa a perceber que não foi muito legal com Laura em inúmeras situações. De fato, temos uma desconstrução em tela de um homem altamente possessivo da namorada e que não entende bem que ela é um individuo pensante e que tem dilemas próprios. A relação tóxica que se constrói não é vista, a principio, nos momentos iniciais do encontro dos dois, somente na reavaliação do que se passou e é ai que o texto se engrandece não passando pano para nada ou ninguém. 

Laura é uma jovem mulher que ama cantar, mas não segue os desejos como profissão e sim como hobby. Trabalha como médica e se diz satisfeita momentaneamente com as escolhas, ainda que entenda que lá no fundo quer sim deixar aflorar sua veia artística. Quando conhece Marco não está necessariamente procurando o amor para si e sim sendo ganho para uma amiga. Aliás, o conhece cantando no Karaokê o hino nacional brasileiro da sofrência e que se torna a música do casal. A personagem tem um arco menor e mesmo assim consegue fazer refletir situações que milhares de mulheres passam em suas relações cotidianas com seus parceiros. Há humanização para ela e para ele e nenhum deles soam perfeitos ou com uma jornada mais consolidada que a do outro. Assim, acontece um preenchimento muito adequado de revisão de conceitos, atitudes e escolhas que evidenciam o crescimento de ambos dentro da trama. Como plano de fundo a história do casal, tem-se a entrada em cena da chefe mega empoderada de Marco, vivida por Larissa Luz, a amiga, vizinha, pau pra toda hora, Julia, papel de Evelyn Castro, e a amiga de profissão de Laura que sempre está tentando engatar um novo relacionamento. O longa também nos faz ter um momento muito terno quando ao revisitar uma memória do passado, Marco reencontra o pai falecido e um abraço carinhoso entre os dois joga uma energia amorosa na tela (pegue lencinhos neste momento).

Trailer


Ficha Técnica
Título Original e Ano: Evidências do Amor, 2023. Direção: Pedro Antônio. Roteiro: Elenco: Álvaro Campos, Luanna Guimarães, Fábio Porchat. Elenco: Fábio Porchat, Sandy Leah, Evelyn Castro, Fernanda Paes Leme, Larissa Luz, Sâmya Pascotto, Jason Packer, José Augusto. Gênero: Comédia, Romance. Nacionalidade: Brasil. Trilha Sonora Original: Daniel Simitan. Fotografia: Pedro Faerstein. Edição: Zaga Marttelleto. Direção de Arte: Prica Costa. Produtoras: Framboesa Films e Particular Crowd. Distribuição: Warner Bros Pictures Brasil. Duração: 01h47min.

A criatividade que o filme tem apenas como 'idéia'' já o torna altamente vendável, mas o seu resultado é de uma grandiosidade que vai além e talvez o audiovisual brasileiro tenha ganho aqui um ''confort movie'' daqueles que sempre vamos querer revisitar. A conexão íntima que Sandy tem com a canção temática por ser filha de um dos intérpretes poderia talvez a fazer não aceitar a participar do projeto, mas o público agradece o seu empenho e resposta positiva, pois agregou de forma magnânima e se reforçou a necessidade de mais comédias românticas brasileiras que tenham tanto cuidado e atenção a narrativa, personagens originais e um cadinho de cultura pop no meio (até referências ao filme ''A Origem'' vemos aqui).

Fábio Porchat esteve em ''O Palestrante'' [Marcelo Antunez, 2022] que tem peso tanto de comédia como romance, e por lá, aliás, é visto cantando ''Evidências'' - o que já pode ter sido uma conexão para este filme, e se não foi, que boa linha cinematográfica ele criou. Mas deveras o artista tem entregue performances no cinema que surpreendem e ou vão de veias dramáticas ou comédias mais sutis - ainda que sua escola teatral escrachada esteja sempre nele e seu jeitinho ''único'' esteja sempre sendo reconhecido. Já Sandy, uma parceira que não é nem um pouco inusitada, pois a cantora já atuou em seriados (Sandy&Júnior, 1999-2002), novelas (Estrela Guia, 2001) e participou de películas como o distópico ambiental ''Acquaria'' (2003) e o drama de terror ''Quando Eu Era Vivo'' (2014), é a luva perfeita e ganha caracterizações fofas, mudanças de cabelos para ressignificar o caminho da personagem, e não deixa de mostrar os dotes de cantoria. Além disso, consegue criar um arco amarradinho para Laura.

Créditos: Evidências do Amor © E ᵀᴹ 2024. Warner Bros Discovery Inc. Todas as marcas registradas são propriedades de deus respectivos donos.
Fábio Porchat e Sandy Leah conseguem convencer como casal e tem tudo para emocionar o público

A estética do filme, o design de produção e a fotografia tomam caminhos requintados. Tem se um colorido intenso em diversas cenas que Laura está e um contraste de ''moderno-pálido'' nas cores das cenas em que Marco aparece. A casa do desenvolvedor é por demais ultra contemporânea e tais usos conseguem detalhar as personalidades distintas, mas que se complementam com facilidade. Pedro Antônio tem uma filmografia diversa e com muitos trabalhos na comédia que passam pela tevê e são sucesso de público no cinema. Seu mais recente filme foi a adaptação do livro homônimo de Paula Pimenta ''Fazendo Meu Filme'', lançado diretamente no Amazon Prime Vídeo. Ainda que este tenha um público mais teen, o diretor tem produções de todos os gêneros e para todas as idades como ''Altas Expectativas'' (2017), e as continuações ''Um Tio Quase Perfeito 2 '' (2021) e ''Tô Ryca 2'' (2022). Aqui dosa bastante os gêneros e nem a comédia fica exagerada e nem o drama. Vem tudo muito no ponto e acertado.

A trilha enaltece as inúmeras versões que ''Evidências'' ganhou ao longo do tempo. Brinca com a idéia de sua composição não ser de seus interpretes mais famosos atormentando um dos compositores, no caso, José Augusto, e faz a audiência rir, chorar e refletir sobre relacionamentos de forma leve e descontraída. Também temos a presença de outra grande canção popular que é ''Cheia de Mania'', da banda de pagode Raça Negra. Não só isso, mas Fábio e Sandy dançam a música em uma das cenas para criar uma memória divertidíssima do casal.

O filme conta com uma pequena participação da dupla Chitãozinho & Xororó ao final dos créditos e durante os mesmos e está sendo lançada no dia do aniversário do irmão de Sandy, Júnior. Logo, é uma leva de adendos e referências criativas que não acabam mais e deixam qualquer fã de cultura pop maravilhado. Lembrando também que a dupla está em alta, pois também deu as caras no ato final do longa de sucesso ''Minha Irmã & Eu'' [Susana Garcia, 2023].

Avaliação: Três moedas de karaokê e meio agudo afinado (3,5/5).

Escrito por Bárbara Kruczyński

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