Um Minuto É uma Eternidade para Quem Está Sofrendo | Mostra Tiradentes Em São Paulo



O filme foi laureado na Mostra Tiradentes, em Janeiro deste ano, com o Prêmio na categoria de ''MELHOR LONGA'' – MOSTRA AURORA – JÚRI JOVEM


Na época funesta da pandemia da covid-19, um sergipano depressivo, desempregado, gay, despudorado em mostrar o seu corpo, amante da literatura e do cinema, resolveu criar um diário íntimo com pequenos vídeos realizados a partir de seu celular. Outro sergipano percebeu que deste material poderia sair um filme. A junção dos talentos de Fábio Rogério e de Wesley Pereira de Castro, codiretores, criou esta obra-prima: Um Minuto É uma Eternidade para Quem Está Sofrendo, um compêndio divertido, melancólico, escatológico, sexy, angustiante, filosófico destes tempos difíceis de isolamento social e penúria econômica.

"Um minuto é uma eternidade para quem está sofrendo". O título deste curto filme reverbera como uma verdade comum a todos os seres humanos, pois todos já passaram por essa angústia. Para alguém muito sensível, isso virou uma constante no período de isolamento social. E a exposição desse sofrimento, a nível pessoal, é ato de grande coragem, pois exibe a todos a alma esfacelada, o corpo em carne viva. O codiretor e autor deste diário cinematográfico Wesley tem essa bravura. O seu desamparo na tela comove, exacerbado que é por pensamentos suicidas, autocomiseração, baixa estima em vários momentos e por uma penúria de recursos extrema, desempregado que estava.

Esses momentos de eternidade temporária, de minutos, em que o mundo parece se acabar e a vida não tem mais sentido são emoldurados por curtos vídeos de celular, com edição frenética, movimentos de câmera criativos e espontâneos. As palavras é que pesam. O sofrimento estampado na voz e nas expressões faciais contrapõe-se ao divertido jogo de cena, cria-se de verdade uma insustentável leveza do ser.

Em contraponto à insustentabilidade da angústia de sobreviver nesta época, há a leveza de se morar numa casa de quintal enorme, cheio de animais e árvores frutíferas, a delícia de se ter uma mãe carismática com quem se divide o isolamento, a companhia de muitos livros e dvds de cinema, as conversar por celular com os amigos, a caça de parceiros sexuais nos aplicativos de encontros. O humor do cotidiano da vida contrasta com a tristeza dos minutos de sofrimento. A vida é isso, alternância de momentos. Os diretores, com sua edição, demonstram bem isso.

                                                      Crédito de Imagens: Mostra Tiradentes  SP | Divulgação
Wesley Pereira de Castro é critico associaciado à Abraccine e um escritor assíduo que pode ser encontrado facilmente em qualquer página do Filmow ou Letterboxd.



Frente ao desnudamento da alma, o diretor/personagem Wesley também revela o corpo. Pintos, cús, banhos, ereções, mijadas, são mostradas o tempo todo. O filme só é próprio para adultos. Esse despudoramento do autor do diário acrescenta muita sensualidade à obra. É um adulto com desejos sexuais, sofrendo isolamento social, com carência de recursos e alimentos, desejos suicidas e que se alivia com seus impulsos carnais. Até mesmo escatologicamente, pois jatos e jatos de urina e sêmen vertem de seu membro, flácido ou ereto. Essas cenas trazem muito humor à obra, a alegria de se satisfazer está sempre presente no roteiro. Desejos sexuais são contados indiscretamente aos espectadores, o desnudamento do corpo e da alma é completo.

Nesse amalgama de dor e prazer, alegria e sofrimento, vê-se claramente o talento dos diretores em criar um bom filme. Fábio Rogério é um prolífico diretor, com muitas co-produções com críticos com Jean Claude Bernardet e Marcelo Ikeda. Seus títulos são Performance com Uísque (2024); A Última Valsa (2024) co-direção com Jean-Claude Bernardet; Este cinema tão Augusta (2024); Cama Vazia (2023) co-direção com Jean-Claude Bernardet; Cantando no Chuveiro (2023); Crepúsculo das deusas (2022); Eu não sei dançar, mas danço (2022); Olhos Livres (2021); Nadir (2019); Impávido Colosso (2018) co-direção com Marcelo Ikeda; O Brado Retumbante (2016) co-direção com Marcelo Ikeda; A eleição é uma festa (2013) e O arquivo de Ivan (2008). Wesley Pereira de Castro é diretor dos curtas O futuro é um vazio (2020) e O Lugar em que um Homem Mora (2003), Escopo (2003) e Jardim das Vulvas (2002), além de ator em Povo de Atalaia (2023), Cantando no chuveiro (2023), Eu não sei dançar, mas eu danço (2022). Essa expertise de ambos, talentos incontestáveis, fez com que o filme Um Minuto É uma Eternidade para Quem Está Sofrendo fosse exibido na Mostra Tiradentes de 2025, onde recebeu o prêmio de melhor longa-metragem do júri jovem da Mostra Aurora.

Pôster do Filme


Ficha Técnica

Título Original e Ano: Um Minuto É uma Eternidade para Quem Está Sofrendo, 2025. Direção : Fábio Rogério e Wesley Pereira de Castro. Roteiro : Fábio Rogério e Wesley Pereira de Castro. Elenco: Rosane Pereira de Castro e Wesley Pereira de Castro. Gênero: Drama, Ficção. Nacionalidade: São Paulo, Sergipe, Brasil. Montagem : Fábio Rogério e Wesley Pereira de Castro. Fotografia : Fábio Rogério e Wesley Pereira de Castro. Som: Fábio Rogério e Wesley Pereira de Castro. Produção: Fábio Rogério e Wesley Pereira de Castro. Duração: 61min.
No longa aparecem várias leituras de trechos de livros, cenas de filmes diversos e músicas cantadas em chuveiros no quintal. No meio de toda essa arte, surgiu outro produto artístico e de entretenimento que virou um grande filme. É assim que a história do cinema se faz, com boas ideias nas mãos de atores e diretores talentosos, que criam do seu material algo que reverbera na cabeça de quem está consumindo essa arte. 

Nota: 10/10.

O longa está na seleção de filmes da 58º Festival de Brasília pela "Mostra Caleidoscópio"
🎞 A exibição acontece hoje, no dia 15 de setembro (segunda-feira), às 17h, no Sesc 504 Sul.
🎟 A entrada é gratuita e por ordem de chegada.

Escrito por Marcelino Nobrega

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