Após mais de uma década de sustos regados a altas doses de cristianismo recreativo, a franquia ‘Invocação do Mal’ chega ao fim. Pelo menos ao que tudo indica. Iniciada com o filme homônimo de 2013, a marca criada por James Wan analisa o confronto entre a fé e o demoníaco através da ficcionalização de relatos do casal de investigadores paranormais Ed e Lorraine Warren (Patrick Wilson e Vera Farmiga) e suas aterrorizantes aventuras (supostamente) reais envolvendo fenômenos inexplicáveis. A saga, dividida entre tramas protagonizadas pelos Warren e spin-offs que se aprofundam nas origens de entidades demoníacas enfrentadas por eles, até agora originou um total de 8 longas-metragens. Neste 9º e (aparentemente) último filme, a promessa é revelar ao público sua história mais horripilante.
Em ‘Invocação do Mal 4: O Último Ritual’, uma família passa a ser atormentada por manifestações misteriosas em sua casa após inadvertidamente comprarem um espelho amaldiçoado. Aposentados de sua carreira de investigação paranormal, o power couple Ed e Lorraine Warren são atraídos para o caso por intermédio dos poderes sobrenaturais cada vez mais aflorados de sua filha Judy (Mia Tomlinson) e se vêem obrigados a enfrentar uma ameaça de seu passado.
Trailer
Ficha Técnica
Título Original: The Conjuring: Last Rites. Direção: Michael Chaves. Roteiro: Ian Goldberg, Richard Naing e David Leslie Johnson-McGoldrick. História Original: David Leslie Johnson-McGoldrick e James Wan. Elenco: Patrick Wilson, Vera Farmiga, Mia Tomlinson, Ben Hardy, Rebecca Calder, Elliot Cowan, Kíla Lord Cassidy, Beau Gadsdon, Shannon Kook. Gênero: Terror sobrenatural, Thriller e Suspense. Nacionalidade: Estados Unidos; também coprodução com Reino Unido. Fotografia: Eli Born. Edição: Gregory Plotkin, Elliot Greenberg. Trilha Sonora Original: Benjamin Wallfisch. Design de Produção: John Frankish. Direção de Arte: Andrew Palmer. Figurino: Graham Churchyard. Produção Executiva: James Wan e Peter Safran. Produtoras: New Line Cinema, Atomic Monster, The Safran Company, Warner Bros e Quebec Film and Television Tax Credit. Distribuidora: Warner Bros. Pictures. Duração: 135 minutos (2h15min). Classificação Indicativa (Brasil): 16 anos.
Nesta elegia de despedida ao casal mais querido da história da Demonologia, a emoção é palavra de ordem. Sim, as cenas de atmosfera tensa e os jump scares pelos quais a franquia é conhecida estão todos aqui, embora sem o charme da direção de seu criador, que mais uma vez cede a cadeira de diretor para Michael Chaves - responsável por "A Freira 2'' (2023), "Invocação do Mal 3" (2021), e "A Maldição da Chorona"(2019). Clichês como caixinhas de música fantasmagóricas, bonecas assustadoras e cadeiras de balanço que se movem sozinhas também não faltam. Mas no capítulo final, o clima é mais de celebração familiar do que de exorcismo. Com uma dramática cena de abertura passada na noite no nascimento da única filha do casal e mencionando as dificuldades da garota na infância ao lidar com as habilidades mediúnicas que herdou da mãe, o longa foca na juventude de Judy, com Mia Tomlinson sendo a 3ª intérprete da personagem na franquia. Ed e Lorraine encaram de formas bastante distintas o fato de que Judy, agora uma mulher adulta, está prestes a se casar com seu namorado Tony (Ben Hardy). A subtrama rende várias situações ao melhor estilo ‘O Pai da Noiva’ (Vincente Minnelli,1950), ao mesmo tempo que Ed enfrenta seu próprio drama pessoal com problemas cardíacos que o fazem temer por sua vida. Um filme perfeitamente pé no chão, se não fossem os esqueletos no armário que não cansam de azucrinar a família Warren.
Se o desenvolvimento do núcleo familiar é satisfatório, infelizmente o mesmo não pode ser dito do enredo de Horror que move a trama. Ao mesmo tempo que ‘Invocação do Mal 4: O Último Ritual’ entrega ao público exatamente aquilo que já se espera destes filmes, falha em tecer uma narrativa engajante que valorize a química dos personagens que tem a seu dispor. Mesmo com uma ambientação assustadora e uma boa construção de suspense, tudo soa meio protocolar, meio cansado. Não parece haver uma real intenção em estabelecer uma evolução narrativa que conduza o público pelos sustos: eles acontecem, mas como num trem fantasma desgovernado que não sabe ao certo aonde vai. Não sabe ou pior: não se importa.
Crédito de Imagens: © 2025 Warner Bros. Entertainment Inc. All Rights Reserved.
O primeiro país a receber exibição de estréia do lançamento foi o Azerbaijão. Ademais, a última janela do filme é na Arábia Saudita em 11 de setembro.
Quem não assistiu os outros três filmes principais da franquia talvez tenha certa dificuldade para acompanhar referências a personagens e acontecimentos dos capítulos anteriores, mas nada que prejudique a experiência. Especialmente considerando que esta série de filmes nunca teve uma grande preocupação em desenvolver uma mitologia narrativamente concreta e coesa entre seus capítulos, modificando a continuidade de regras deste universo como fosse mais conveniente para o prosseguimento da franquia. O novo capítulo opera neste mesmo método: os sustos importam por eles mesmos, não sendo relevante se soam vazios ou gratuitos. Mesmo com algumas cenas efetivas, elas acabam tendo seu impacto diluído pela falta de integração com a trama geral e pela certeza não-declarada de que nada de ruim vai acontecer à família de protagonistas. A sensação de previsibilidade vem também da trilha sonora de Benjamin Wallfisch, que já havia trabalhado na franquia anteriormente compondo a trilha de ‘Annabelle 2: A Criação do Mal’ (David F. Sandberg, 2017). A atmosfera musical acaba sendo mais funcional do que deveria e parece tentar dizer ao público exatamente o que precisa sentir, salvo por usos pontuais de sintetizadores (uma novidade na franquia).
‘Invocação do Mal 4: O Último Ritual’ acaba por repetir os mesmos erros do filme de 2021 ‘Invocação do Mal 3: A Ordem do Demônio’ e serve ao público uma trama morna com cenas repetitivas e que poderiam ter sido mais bem concebidas e executadas (mas que, por algum motivo, não foram). Ao mesmo tempo, oferece bons momentos com a família Warren, este clã adorável e acolhedor cuja mística de cristãos rockstars poderia tão facilmente ser desvirtuada como propaganda conservadora. A química apaixonante entre Vera Farmiga e Patrick Wilson sempre foi e continua sendo o coração da franquia. Eles são o que realmente importa aqui, os demônios são meros acessórios. Se este for realmente o adeus dos Warren no Cinema, como a campanha de marketing do filme alega, trata-se de uma bela despedida no campo emocional. No campo do Horror, contudo, este desfecho talvez soe um tanto frustrante e anticlimático.
HOJE NOS CINEMAS
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