Duas Bruxas - A Herança Diabólica, de Pierre Tsigaridis | Assista nos Cinemas


 “Tu sempre foste muito gentil comigo. Não te farei nenhum mal”… 

Diferentemente da maioria dos filmes de terror contemporâneos, esta produção opta por não se levar tanto a sério e resgatar um formato muito utilizado na década de 80, a divisão em episódios. Nos moldes de “Creepshow: Arrepio do Medo” (1982, de George A. Romero) e da telessérie “Contos da Cripta”, este filme alinhava duas estórias distintas e um epílogo, tendo em comum o tema da bruxaria. A despeito do bom humor percebido nalgumas interações, as doses de violência são intensificadas: há desde bebês sendo devorados explicitamente até o esfaqueamento de uma idosa. E muitos gritos e ruídos assustadores, claro!

Dirigido, co-roteirizado, fotografado e montado pelo parisiense Pierre Tsigaridis, “Duas Bruxas – A Herança Diabólica” (2021) exibe diversos méritos para um diretor estreante. Principalmente, no que diz respeito à construção dos personagens e à elaboração de tensão crescente nas situações, que não são meros pretextos para os famosos ‘jumpscares’, ainda que esses aconteçam de vez em quando. É um filme que obtém êxito na intenção de manter o espectador em estado suspensivo, portanto.

O primeiro episódio, “a mulher bicho-papão”, é sobre um casal feliz que passa a ser atormentador por visões recorrentes de uma bruxa. Sarah (Belle Adams) e Simon (Ian Michaels) estão num restaurante, comemorando a gravidez dela. De repente, ela percebe-se observada por uma mulher com aspecto estranho (Marina Parodi) e começa a sentir-se perseguida por forças malignas. No dia seguinte, eles encontram-se com um casal de amigos que flerta com o esoterismo, e coisas muito estranhas começam a acontecer: as velas mágicas acendidas por Melissa (Dina Silva) apagam-se misteriosamente e o inicialmente cético Dustin (Tim Fox) é obrigado a admitir que Sarah parece possuída por alguma entidade demoníaca, principalmente depois que vaga pelos corredores na madrugada, como se fosse uma sonâmbula. Um dedo arrancado é o estopim da tragédia que se segue…

Trailer

Ficha Técnica

  • Título original e ano: Two Witches, 2021. Direção: Pierre Tsigaridis. RoteiroKristina Klebe, Maxime Rancon e Pierre Tsigaridis. Elenco:  Rebekah Kennedy, Kristina Klebe, Dina Silva, Marina Parodi, Belle Adams, Ian Michaels, Tim Fox. Gênero: Terror. Nacionalidade: .Trilha Sonora Original: Gioacchino Marincola. Fotografia: Pierre Tsigaridis. Edição: Pierre Tsigaridis. Maquiagem: Kao Miyamoto. Distribuição: Synapse Distribution. Duração: 01h38min

O segundo episódio, “Masha”, apresenta-nos à personagem-título (Rebekah Kennedy), que é uma estudante romena vivendo nos Estados Unidos da América. Descendente orgulhosa de feiticeiras, ela admite gostar bastante de sexo, mas precisa ser resgatada por sua colega de quarto Rachel (Kristina Klebe), depois que ela é espancada por um parceiro eventual. O espectador descobre que Masha é uma mulher bastante perversa, que seduz e maltrata várias pessoas, nas festas de que participa. Até que Dustin e Melissa entram novamente em cena e constatam que há algo demoníaco nela. Eles tentam contê-la, mas ela invade a casa da mãe de Rachel, Mary (Danielle Kennedy), na noite de Natal, aterrorizando-a.

Entre um e outro episódio, há poucos elementos de conexão, mas sabemos que eles ocorrem no mesmo espaço-tempo, além de serem ambos protagonizados por bruxas malévolas. No epílogo, testemunhamos um sabá crudelíssimo, além do anúncio de que essas estórias terão continuidade em filme(s) vindouro(s), reiterando a familiaridade do diretor em relação ao modelo produtivo anteriormente citado. Mesmo com algumas firulas, é um filme que nos oferece algo consistente, em termos de atualização das convenções oitentistas do gênero horror. 

                                                                                                                 Créditos: Divulgação
Ganhador dos prêmios de ''Melhor Edição'' no FilmQuest Cthulhu 2021, ''Melhor Maquiagem'' no 
Freak Show Horror Film Festival 2021 e ''Melhor Filme de Terror'' no Grimmfest 2021. 

Os efeitos visuais do filme são erigidos a partir de inteligentes estratagemas de câmera e de montagem, a fim de aproveitarem com habilidade o orçamento modesto da produção. E a sanguinolência é justificada pelos comportamentos perversos das bruxas, cujos recursos de maquiagem as expõe como mulheres horrendas. Curiosamente, o roteiro mostra a personagem Rachel como alguém que questiona a misoginia associada às narrativas em que as mulheres acusadas de praticarem bruxaria são vilanizadas. Antes que ela própria converta-se numa vítima da inveja amplificada de Masha, apregoa a necessidade de uma lógica matriarcal, em que as bruxas não sejam descritas como figuras tão horrendas. Na prática, entretanto… 

Por mais problemas que encontremos em sua estrutura chavonada, “Duas Bruxas – A Herança Diabólica” proporciona pouco mais de uma hora e meia de entretenimento ao público, combinando arrepios e imagens gráficas repugnantes. Exceto pela concepção intencionalmente caricata da personagem Masha e pelos exageros heróicos e vingativos de Dustin, próximo ao desfecho, as interpretações deste filme são boas e, tudo indica, ele despertará o interesse acerca de enredos que abordam os sortilégios tradicionais. Sendo assim, vale a pena!


EM CARTAZ!

Escrito por Wesley Pereira de Castro

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