Uma Batalha Após A Outra, de Paul Thomas Anderson


O produtor, roteirista e diretor premiado nos festivais de Cannes, Berlim e Veneza, e onze vezes indicado ao Oscar, Paul Thomas Anderson está de volta com o aguardado “Uma Batalha Após a Outra”, uma trama enérgica sobre revolucionários em confronto com o sistema. O filme traz um superelenco formado por Teyana Taylor, Leonardo DiCaprio, Sean Penn, Regina Hall, Chase Infiniti, Benicio Del Toro, Shayna McHayle, Wood Harris, Nia Leon, Paul Grimstad e Alana Haim. Ademais, é livremente inspirado na obra "Vineland de Thomas Pynchon (Penguin Press, 1990) e acompanha Perfidia (Taylor), uma mulher negra, rebelde e empoderada, e seu namorado Bob (DiCaprio), um jovem branco especialista em explosivos. Juntos, eles integram o French 75, um grupo diverso que luta pela causa dos imigrantes, pela liberdade dos corpos femininos e que enfrenta o sistema político de forma radical, recorrendo até a atentados a bancos. Entre os membros da célula estão ainda Mae (Haim), Junglepussy (McHayle), Deandra (Hall) e Laredo (Harris)

Em uma de suas missões, Perfidia cruza o caminho do Coronel Steven J. Lockjaw (Penn), uma figura do aparato militar fascistóide que desenvolve uma obsessão por ela, algo contra o qual, de certa forma, ela não consegue revidar. A perseguição tóxica à qual passa a ser submetida desestabiliza o grupo, levando Perfidia a delatar os companheiros em troca da própria liberdade, conquistada ao fugir para não ser controlada por Lockjaw. Com a queda do coletivo, Bob, profundamente preocupado após o nascimento da filha do casal, Charlene (Nia Leon), que mais tarde se torna Willa (Infiniti), decide se mudar com a criança para uma pequena cidade, aconselhado por Sommerville (Grimstad), que também integra o grupo, e com o auxílio de Deandra. Lá, assume uma nova identidade, mas mergulha em uma vida de paranoia, marcada pelo abuso de álcool e outras drogas, que aos poucos o consome e o deixa fora de forma para o campo de batalha. Dezesseis anos depois, Lockjaw encontra o paradeiro de Bob e Willa e temendo que a jovem seja sua filha, e que isso comprometa sua trajetória de membro de uma associação extremista racial, o militar mobiliza um batalhão, helicópteros e armas para eliminar qualquer rastro de sua conduta questionável no passado. É então que o professor de Karatê, Sérgio (Del Toro), entra em cena para ajudar Bob, enquanto Willa recebe visitas inesperadas de pessoas que poderão ajudá-la a compreender melhor quem foi sua mãe.

O filme entrega uma trama amarradinha, cenas de ação magistrais, uma comédia sagaz no melhor estilo PTA e atuações avassaladoras, tanto de nomes consagrados como Leonardo DiCaprio, Sean Penn e Benicio Del Toro, quanto da estreante Chase Infiniti e da atriz Teyana Taylor, que impacta o público com a força que imprime à sua personagem. Com quase três horas de duração, o longa se afirma como um espetáculo de cinema técnico de altíssimo nível, visto ter sido rodado com o aparato de câmeras VistaVision (70mm). Sonda-se que o orçamento total da película sai da casa dos 130 milhões de dolares e pode chegar aos 175. 

                                                       Crédito de Imagens: Photo Courtesy Warner Bros. Pictures
A produção contou com filmagens pelo período de sete meses em vários lugares na Califórnia (Eureka, Arcata, Sacramento, Stockton, San Juan Bautista, San Diego, Los Angeles e Borrego Springs) e em El Paso, Texas.


Esta é a segunda vez que PTA utiliza uma obra de Pynchon para dar corpo a um de seus filmes. A primeira tendo sido o também espetacular "Vicio Inerente" (2014), estrelado por Joaquin Phoenix. Desta vez, o diretor alcança um patamar ainda mais elevado, entregando uma narrativa que dialoga profundamente com os tempos sombrios em que vivemos.

Se o livro transportava seus leitores aos anos 60 e 70, quando hippies se uniam para questionar o sistema, aqui estamos no presente, em uma era em que adolescentes já sabem se declarar não binários, mas muitas vezes não percebem plenamente os sacrifícios que seus pais fazem ou as lutas pelas quais passaram. Paul apresenta quase os mesmos personagens, mas estes vem com nomes diferentes daqueles na obra literária. É prático e consegue evidenciar com facilidade onde estão as semelhanças entre os textos (se o espectador tiver noção da trama original). Sua construção contemporânea de um grupo revolucionário a partir de diversos outros que existiram em tempos passados (o partido dos panteras negras, estudantes por uma sociedade democrática ou o comitê estudantil de coordenação não violenta) ressalta a diversidade, é contra guerras e traz mulheres negras falando abertamente sobre aborto e protestando radicalmente pela liberdade de seus corpos. A pauta atualíssima da questão dos imigrantes no mundo é abordada em formatos distintos: há momentos em que eles necessitam de auxílio para se libertar e outros em que um imigrante latino se torna a força de apoio para quem precisa. 

Trailer


Ficha Técnica
Título Original e Ano: One Battle After Another, 2025. Direção: Paul Thomas Anderson. Roteiro: Paul Thomas Anderson - livremente baseado na obra "Vineland", de Thomas Pynchon. Elenco: Teyana Taylor, Leonardo DiCaprio, Sean Penn, Regina Hall, Wood Harris, Alana Haim, Shayna McHayle, Paul Grimstad, Starletta DuPois, Chase Infiniti, Benicio Del Toro. Gênero: Drama, Ação, Comédia. Thriller. Nacionalidade: Estados Unidos da América. Trilha Sonora Original: Jonny Greenwood. Fotografia: Michael Bauman. Edição: Andy Jurgensen. Figurino: Colleen Atwood. Design de Produção: Florencia Martin. Direção de Arte: Andrew Max Cahn. Empresas Produtoras: Warner Bros. e Ghoulardi Film Company. Distribuição: Warner Bros. Pictures Brasil. Duração: 02h40min. Classificação: 16 anos. 

A trilha sonora da produção tem charme, precisão e aparece nos momentos certos para motivar a platéia a ficar ligada na corrida maluca que o filme se torna. Fotografia, figurino, cenários e caracterizações conseguem juntos  trazer as trocas de fases na vida dos personagens e endossar como cada um se apresenta.

A atriz Teyana Taylor tem presença, iniciou sua carreira em videoclipes musicais e sua Perfidia ganha camadas profundamente reais de uma mulher que se perde na própria voz, deixando claro que até o mais revolucionário dos revolucionários, em algum momento, tentará se salvar dos abraços aprisionadores do Estado a qualquer custo. Deandra e a própria Willa também são construídas de forma que glorificam o caminhar de mulheres pardas e pretas. E assim como em "Pecadores", filme de Rayn Coogler lançado em março deste ano, que também aborda a doença que é o racismo impulsionado por grupos extremistas que defendem a supremacia branca, temos uma ótima narrativa que se conduz por um fio de realidade.  

Se Sean Penn arrasa em um personagem totalmente oposto do que ele já possa ter interpretado nas telas, Leonardo DiCaprio vive seu primeiro cara maluco e um pai de menina muito afetuoso. O ator, que na vida real sempre é visto em causas ativistas, vive um só que meio ou muito perdido. Uma interpretação que busca referências em "Um Dia de Cão" (Sidney Lumet, 1976) ou ainda levemente em "O Grande Lebowski" (Joel e Ethan Coen, 1998). Ambos, talvez, já estejam com um pezinho nas indicações para o Oscar do próximo ano e será maravilhoso acompanhar isto.

EM EXIBIÇÃO NOS CINEMAS

Escrito por Bárbara Kruczyński

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