Silvio Santos Vem Aí

 
O ano é 1989 e, após mais de 20 anos de ditadura militar, o Brasil terá, enfim, uma eleição direta para presidente. Entre os candidatos mais fortes estão políticos famosos como Lula, Brizola, o outsider Collor e Silvio Santos (interpretado por Leandro Hassum). A polêmica e histórica disputa à presidência pelo animador de televisão é o fio condutor da narrativa de nova cinebiografia sobre o maior apresentador e animador de plateias do Brasil - ele que já foi tema de série (O Rei da TV, Marcus Baldini, André Barcinski, Ricardo Grynszpan, 2022-2023) e filme (Silvio, Marcelo Antunez, 2024).

"Silvio Santos Vem Aí!" exibe um recorte de um momento específico da jornada do patrão de Lombardi e ao invés de tentar destrinchar os mistérios envolvendo sua vida privada, se atenta a alimentar o mito por trás do homem. Durante o inicio de sua carreira, Senor Abravanel, nome real do artista, manteve nebuloso tanto para a imprensa quanto para o seu público detalhes importantes sobre seu eu particular, principalmente, o seu passado, à la Cidadão Kane, como citado verbalmente pela personagem Marília (Manu Gavassi) para descrever a situação.

"Silvio Santos Vem Aí!" apresenta um recorte de um momento específico da trajetória do patrão de Lombardi e, em vez de tentar desvendar os mistérios que envolvem sua vida privada, concentra-se em alimentar o mito por trás do homem. No início de sua carreira, Senor Abravanel - nome real do artista - manteve nebulosos, tanto para a imprensa quanto para o público, detalhes importantes sobre sua vida pessoal, especialmente seu passado. O que remete "à la Cidadão Kane", como a personagem Marília (Manu Gavassi) cita ao descrever a situação. Marília integra a equipe do partido que tenta descobrir todos os “podres” da vida de Senor antes que os adversários o façam e usem essas informações contra ele na campanha eleitoral. O filme oferece uma breve visão de como funcionam os bastidores de uma corrida eleitoral, com todas as suas reviravoltas. Ao longo de todo o longa, acompanhamos a tentativa obstinada da personagem de enxergar além da persona que lhe é apresentada. No entanto, todas essas tentativas fracassam, pois, nas entrevistas, ela recebe apenas respostas vagas e envoltas em misticismo.

                                                  Crédito de Imagens: Paris Filmes/ Divulgação
A candidatura de Silvio Santos foi oficializada pelo "Partido Municipalista Brasileiro" em outubro de 1989 e cassada pelo Tribunal Superior Eleitoral em novembro do mesmo ano com a justificativa de inválida, devido ao partido ser ilegal.

Nesse sentido, há muito mais uma preocupação em prestar homenagem a uma figura histórica da televisão brasileira do que, de fato, em explorar os pormenores das motivações que levam um homem bilionário a concorrer à presidência. E há ainda menos intenção de abordar os detalhes minuciosos da disputa. Tudo permanece muito vago, sem grandes aprofundamentos e, pior: muitas vezes redundante em seu discurso.

A sensação é que a figura de Silvio está sobrando por trás de um plot muito mais interessante que nunca é plenamente desenvolvido. Pode-se traçar a acusação de que se trata de um filme chapa branca, mas este pende muito mais para o campo da homenagem e da admiração, quase idealizada da figura em pixels por trás do empresário e multimilionário. Todos os assuntos sensíveis são sempre tratados dessa forma: lírica, desprendida e romantizada.

A maior prova dessa visão, da direção assinada por Cris D'Amato, e também do roteiro de Paulo Cursino, é que o filme termina de forma abrupta sem concluir o arco que iniciou. Historicamente sabemos que Silvio desistiu da eleição e não mais se interessou por política desde então, mas ao invés de mostrar isso em tela os criadores permanecem na zona romantizada da situação e perdem a chance de dar camadas adicionais ao texto e aos personagens. A atuação de Hassum chama atenção em momentos mais sérios e sóbrios dentro do filme e tenta ao máximo emular os maneirismos que marcaram a figura de Silvio na TV.


Trailer





Ficha Técnica 
Título Original e Ano: Silvio Santos Vem Aí. 2025. Direção: Cris D’Amato. Roteiro: Paulo Cursino. Elenco: Leandro Hassum, Manu Gavassi, Marcelo Laham, Regiane Alves, Gabriel Godoy, Hugo Bonemer e Vanessa Giácomo. Gênero: Drama, Biografia. Nacionalidade: Brasil. Direção de Fotografia: Hélcio Alemão Nagamine. Direção de Arte: Magherita Pennacchi. Figurino: Gabriella Marra e Gabriela Monnerat. Caracterização: Simone Batata. Som Direto: Lia Camargo. Supervisão Musical e Música Original: Beto Villares. Edição e Mixagem de Som: Ricardo Cutz. Montagem: Bernardo Pimenta. Direção de Produção: Rodolfo Grec. Produção de Elenco: Alessandra Tosi. Produção Executiva: Laura Boorhem, Eduardo Nasser. Produzido por: Marcio Fraccaroli, André Fraccaroli, Veronica Stumpf. Produção Associada: Rodrigo Castellar e Adrien Muselet. Coprodução: Simba Content, Claro. Apoio: FSA/BRDE/Ancine (+bandeira nacional). Produção: Paris Entretenimento. Distribuição: Paris Filmes Duração: 01h31min.

Silvio Santos Vem Ai! é uma realização idealizada em torno da vida, carreira e mistérios envolvendo o Homem do Baú. A produção presta uma bonita homenagem sem entrar demais em tópicos sensíveis e apesar de ter um pano de fundo que renderia um excelente thriller político, parece covarde demais para adentrar em suas espinhosas possibilidades.

EM EXIBIÇÃO NOS CINEMAS

Escrito por Júnior Ribeiro

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