Asa Branca - A Voz da Arena, de Guga Sander

 
A realização de cinebiografias impõe desafios significativos a produtores e artistas envolvidos, sobretudo por se tratar de histórias reais. O público nem sempre se mostra satisfeito com o resultado final, já que muitas dessas obras acabam forçando narrativas que destoam do que se conhece dos fatos ou recorrem de forma excessiva à licença poética que o gênero permite. Este, no entanto, não é o caso de Asa Branca – A Voz da Arena, filme dirigido por Guga Sander, que traz Felipe Simas no papel do protagonista, o revolucionário locutor de rodeios que marcou uma era. Também estão no elenco: Fabio Lago como Jotapê, Ravel Andrade interpretando Miltinho e Carlos Francisco é Wandão. O roteiro foi assinado por Rafael Câmara, Fernando Honesko, Celso Duvecchi e Pedro Penna.

Não que o longa-metragem se proponha a reinventar a fórmula das clássicas cinebiografias que chegam todos os anos tanto ao circuito nacional quanto ao internacional. Ainda assim, ao dar vida a Waldemar Ruy dos Santos, o lendário narrador conhecido como "Asa Branca", Simas confere força e autenticidade à trama, fazendo com que o filme se sustente ao longo de quase duas horas de duração e valorize essa história genuinamente brasileira.

O filme parte de um momento decisivo: a reviravolta que transforma a vida de Ruy e o conduz de volta ao universo dos rodeios. Não mais como o peão que encara o touro, mas como a voz que comanda a arena, usando um microfone em mãos e rimas improvisadas que nascem de suas vivências. Simas entrega uma atuação marcada por autenticidade, carisma e garra. Talvez, em alguns trechos, a narração não atinja o mesmo nível de impacto, mas, em momentos chave da trama, sua locução é potente e capaz de arrepiar o espectador. Surpreende, sobretudo, o quanto o ator consegue ganhar a atenção de quem assiste, imprimindo força e presença à narrativa.

A obra tem a frente da produção, Marcos Araujo e João Queiroz Filho, e nela, acompanhamos a jornada de Asa Branca rumo aos Estados Unidos, para descobrir como transformar os rodeios do interior de São Paulo, em grandes e chamativos eventos. Junto da parceira de locução, a DJ Jiboia, interpretada pela atriz Camila Brandão, Asa Branca pretende tornar os rodeios um espetáculo nunca antes visto. Isso com muito rock, country, microfones sem fio para poder invadir a arena, fogos de artifício, carros e até um helicóptero.

Crédito de Imagens: Ventre Studio, Claro e Paris Filmes - Divulgação
Felipe Simas está no seu terceiro trabalho nos cinemas, após inúmeras aparições em novelas e séries. 

A visão do narrador diante dessa transformação é marcada pela grandeza, e maior ainda é sua ambição. Com a interpretação de Simas, o espectador acompanha de perto como esse impulso não impacta apenas o universo dos rodeios, mas também a própria vida do protagonista. Lara Tremouroux interpreta Sandra, namorada de Ruy e, brevemente, sua noiva, antes de sua incursão pelos Estados Unidos. Ao longo da trama, o casal se separa pouco depois do noivado, e Ruy retorna ao Brasil profundamente transformado e ainda mais determinado a revolucionar as arenas de rodeio. Entre percalços, ele alcança o sucesso, mas demonstra dificuldade em lidar com a fama e o dinheiro, o que o conduz ao abuso de drogas, álcool e a uma vida de excessos. Ainda assim, jamais se afasta da lembrança de seu grande amor. É justamente nesse ponto que o filme parece perder força, já que o roteiro não encontra sempre o tom ideal para desenvolver o romance, comprometendo parte do envolvimento emocional da narrativa.

Trailer



Ficha Técnica
Título Original e Ano: Asa Branca - A Voz da Arena, 2025. DireçãoGuga Sander. Roteiro: Rafael Câmara, Fernando Honesko, Celso Duvecchi e Pedro Penna. Elenco: Felipe Simas, Lara Tremouroux, Camila Brandão, Fabio Lago, Ravel Andrade, Carlos Francisco. Direção de Fotografia: Carlos Zalasik, ABC. Direção de Arte: Fernanda Carlucci. Direção de Produção: Rafael Dutra. Assistente de Direção: Wally Araújo. Elenco por: Diana Galantini. Preparação de Elenco: Fernanda Rocha. Caracterização: Marcos Freire. Figurino: Flávia Lhacer. Som Direto: Carolina Barranco. Edição de Som e Mixagem: Rodrigo Ferrante. Montagem: Arthur Brito, AMC. Trilha Sonora: André Caccia Bava. Produção: Sentimental Filme. Produzido por: Marcos Araujo e João Queiroz Filho. Produção Executiva: Juliana Bauer, Kátia Nascimento, Marina Aleixo e Justine Otondo. Coprodução: Ventre Studio e Claro. Investimento: Claro, BNDES, FSA, ANCINE e BRDE. Distribuição: Paris Filmes. Duração: 01h49min.
Guga Sander acumula uma trajetória sólida na direção de séries televisivas e assinou, em 2015, o documentário "Surfar é Coisa de Rico", obra que revisita e contextualiza o início do esporte no Brasil, lançando um olhar atento sobre as origens e os contrastes sociais que marcaram a chegada do Surfe ao país.
HOJE NOS CINEMAS

Escrito por Amanda Karolyne

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