Em Sexa, filme estrelado e dirigido por Glória Pires, a audiência acompanha a história de Bárbara, uma mulher bela e inteligente que está celebrando seus sessenta anos, enquanto enfrenta a frustração com a passagem do tempo e, sobretudo, com o modo como a sociedade enxerga, e cobra, a mulher mais velha. Ou melhor: como ela mesma passou a se enxergar sob esse peso. Sua melhor amiga, Cristina, papel de Isabel Fillardis, tenta incentivá-la a olhar para si com mais gentileza e relembra que dar demasiada importância ao etarismo imposto às mulheres só alimenta inseguranças. Além disso, Bárbara é avó, e seu filho Rodrigo, vivido por Danilo Mesquita, e a esposa ainda dependem bastante dela, tanto nas contas da casa quanto na escola do filho, o que aumenta sua carga emocional e financeira. É então que ela conhece Davi, Thiago Martins vive o personagem, um homem mais jovem, pai e viúvo, que divide seu tempo entre estudo, trabalho, futebol e o cuidado com o próprio pai, interpretado por Eri Johnson. A convivência entre os dois evolui naturalmente, e dessa aproximação nasce um relacionamento que desafia convenções e reacende em Bárbara a vontade de se reconectar consigo mesma.
Com distribuição da Elo Studios, o filme estreia nos cinemas esta semana como uma excelente oportunidade para discutir o papel da mulher em uma fase da vida em que, muitas vezes, ela é injustamente colocada “fora de campo”. Sexa mostra justamente o contrário: mulheres que seguem em pleno vapor, com sede de vida, desejo por novas experiências e total capacidade de reinventar seus próprios caminhos. Aos 62 anos, Glória Pires surge belíssima e jovial, conduzindo o filme com a força e a naturalidade que marcam sua trajetória. Além dela, Rosa Murtinho e Dona Déa Lúcia fazem participações especiais que enriquecem ainda mais a narrativa.
Crédito de Imagens: Kika Unha - Giro Filmes, Audaz, Elo studios, Paramount Pictures Brasil - Divulgação
A rainha do pop, Madonna, completou 67 anos este ano e segue em plena forma, trabalhando intensamente, criando, se reinventando e vivendo relacionamentos com homens mais jovens sem pedir licença a ninguém. Ela talvez seja um dos exemplos mais contundentes de que mulheres não precisam, e não devem, aceitar os rótulos de “ultrapassadas”, “inadequadas” ou “incapazes de amar” impostos pela sociedade. O filme de Glória Pires, com roteiro de Guilherme Gonzalez, Bianca Lentti, Pires e Bruna Trindade, apresenta uma protagonista que encarna justamente essa recusa aos limites que o mundo tenta impor. Bárbara vive numa realidade que o espectador reconhece: uma mulher madura, cheia de vivência, que encara desafios emocionais, familiares e sociais enquanto tenta reivindicar o direito de simplesmente existir, e de experimentar.
Bárbara, porém, não encontra no filho o apoio emocional de que precisa. Pelo contrário: Rodrigo reage ao novo relacionamento da mãe com preconceito e desconforto, embora nunca hesite em pedir mais um pix quando precisa. Já Cristina, sua melhor amiga, uma mulher sensata e cheia de conselhos, lembra Bárbara de que a vida é maior do que filhos e trabalho, algo que a protagonista sempre levou muito a sério. Quando esse novo amor surge, jovem, presente e cheio de desejo, Cristina é a primeira a defender que ele seja vivido, não engavetado. Bárbara se permite por um tempo, mas também compreende seus próprios limites e reconhece que sua vida não se resume a romances: ela é composta de suas experiências, escolhas e redescobertas.
Davi, vivido por Thiago Martins, não é retratado como um homem perfeito, e é justamente isso que o torna atraente. Ele tem falhas, como qualquer pessoa, mas sua construção é cuidadosa e evita tanto a caricatura quanto o estereótipo do homem emocionalmente indisponível. Davi se mostra maduro, aberto a um relacionamento e consciente de que sua vida é feita de múltiplas responsabilidades. Mesmo tendo uma filha que depende dele, sabe equilibrar, com esforço e humanidade, o tempo dedicado a cada esfera do seu cotidiano. Além disso, sua relação de parceria com o pai é bem delineada na tela, acrescentando camadas de sensibilidade ao personagem.
Trailer
Ficha Técnica
Título Original e Ano: Sexa, 2025. Direção: Gloria Pires. Roteiro: Guilherme Gonzalez, Glória Pires, Bianca Lentti e Bruna Trindade. Elenco: Gloria Pires, Thiago Martins, Isabel Fillardis, Danilo Mesquita. Participação especial: Eri Johnson , Rosamaria Murtinho, Dan Ferreira e Déa Lúcia. Gênero: Drama, Comédia. Nacionalidade: Brasil. Fotografia: Kika Unha, ABC. Arte: Mônica Delfino. Figurino: Helena Gastal. Som: Zezé D’Alice. Edição: Livia Arbex. Trilha sonora original: Rodrigo Lima. Produção: Belisario Franca, Bianca Lenti e Mauricio Magalhães. Direção de produção: Olivia Buarque. Produção: Giros Filmes e Audaz. Coprodução: Paramount Pictures Brasil. Distribuição: Elo Studios. Duração: 01h27min.
A narrativa também evidencia os desejos sexuais da protagonista de maneira leve, orgânica e sem exageros. Essa abordagem remete imediatamente a outro filme: “Boa Sorte, Léo Grande” (Sophie Hyde, 2022), em que a extraordinária Emma Thompson interpreta uma mulher madura que decide viver um relacionamento estritamente sexual com um garoto de programa. A diferença é que, naquele caso, a história se desenrola quase inteiramente entre quatro paredes, explorando momentos íntimos e profundamente delicados da personagem central. Sexa, por outro lado, amplia o cenário e permite que sua protagonista circule, viva e se transforme em diferentes espaços.
Com canções nas vozes de Rita Lee, Maria Bethânia, Gal Costa, Ana Morais e Rodrigo Lima, o filme se colore de afetos, memória e identidade. É uma obra de atmosfera vibrante e de ótimo gosto, que se abre com trechos de Clarice Lispector, extraídos do livro "Um Sopro de Vida" (ver aqui), quando a autora reflete sobre não se reconhecer na própria imagem refletida no espelho. Talvez esse estranhamento, esse presente ou futuro que às vezes parece difícil de encarar, seja algo que todos e todas atravessam em algum momento da vida. Mas, como lembra Cristina a Bárbara, cada caminhada nos conduz até nós mesmos, e quase sempre nos evidencia que chegamos aqui por razões e motivos que só a vida é capaz de explicar.
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