Entre julho e novembro de 2005, chegava aos cinemas de diversos países não apenas mais uma adaptação do clássico “Orgulho & Preconceito” (publicado em 1813 por Jane Austen), mas possivelmente uma das melhores versões já filmadas dessa história. O longa, dirigido por Joe Wright e estrelado por um elenco jovem que despontava para o estrelato: Keira Knightley (Elizabeth Bennet), Rosamund Pike (Jane Bennet), Carey Mulligan (Lidia Bennet), Talulah Riley (MaryBennet) e Jena Malone (Kitty Bennet), conquistou o público e a crítica, rendendo quatro indicações ao Oscar 2006: Melhor Atriz (Knightley), Melhor Direção de Arte (Sarah Greenwood), Melhor Figurino (Jacqueline Durran) e Melhor Trilha Sonora (Dario Marianelli).
Embora não seja uma adaptação literal do romance, o filme permanece profundamente fiel à essência da obra. Wright recria não apenas os eventos da trama, mas sobretudo as sensações, a atmosfera e os ritmos emocionais que permeiam a jornada de Elizabeth. Seu toque de romantismo mais visceral e imediato aproxima o público do turbilhão de sentimentos que, no livro, se desenvolvem de forma mais gradual, especialmente na relação fascinante entre a heroína e o homem que, à primeira vista, parece desprezá-la, mas que acabaria se revelando o grande amor de sua vida.
“Pride & Prejudice”, título original do filme, ganhou relançamento em diversos países este ano para celebrar os 20 anos de sua estreia. Como parte das comemorações, a Focus Features lançou itens especiais para os fãs e ainda organizou um baile com direito a um concerto exclusivo com Dario Marianelli, que apresentou ao vivo a belíssima trilha sonora composta para o longa. No Brasil, o filme estreia hoje nos cinemas para deixar os corações quentinhos e a alma renovada visto que o longa merece muito ser celebrado na tela do cinema mais uma vez.
Trailer
Ficha Técnica
Título original e ano: Pride & Prejudice, 2025. Direção: Joe Wright. Roteiro: Deborah Moggach, baseado no romance Pride and Prejudice de Jane Austen. Elenco: Keira Knightley, Matthew Macfadyen, Rosamund Pike, Simon Woods, Donald Sutherland, Brenda Blethyn, Judi Dench, Kelly Reilly, Tom Hollander, Jena Malone, Carey Mulligan, Talulah Riley, Claudie Blakley, Rupert Friend. Nacionalidade: Reino Unido, França e EUA. Gênero: Drama, Romance, Período. Fotografia: Roman Osin. Montagem: Paul Tothill. Direção de Arte: Sarah Greenwood. Figurino: Jacqueline Durran. Trilha Sonora Original: Dario Marianelli. Cenografia: Katie Spencer. Maquiagem e Cabelo: Fae Hamill, Ivana Primorac. Edição de Som: William Miller. Design de Produção: Sarah Greenwood. Produção: Tim Bevan, Eric Fellner, Paul Webster. Produtor Executivo: Liza Chasin. Empresas Produtoras: Universal Pictures, StudioCanal, Working Title Filmes, Scion Films. Distribuição nos Estados Unidos: Focus Features. Duração: 127 minutos (2h07). Classificação: Livre.
A paisagem campestre da Inglaterra de 1797 se exibe na tela enquanto Elizabeth caminha de volta para casa, absorvida pela leitura. A câmera passeia pelo entorno da residência, revelando animais soltos pelo quintal, roupas secando no varal e o sol que desponta em mais uma manhã radiante. Dentro de casa, as irmãs Bennet tocam piano, correm pelos cômodos e logo se agitam ao ouvir os pais, o Sr. Bennet (Donald Sutherland) e a Sra. Bennet (Brenda Blethyn), comentarem a tão aguardada chegada do novo morador de Netherfield Park, o riquíssimo Sr. Bingley. O alvoroço rapidamente se transforma em uma animada conversa sobre o baile que acontecerá dali a algumas semanas, quando todos, e especialmente as moças, terão a chance de dançar e estar na presença do tão comentado e renomado recém-chegado. Não demora e elas começam os preparativos para os vestidos e detalhes necessários para o grande evento. No dia do baile, a Sra. Bennet faz questão de apresentar cada uma de suas filhas ao Sr. Bingley, que chega acompanhado da irmã Caroline (Kelly Reilly) e de seu fiel amigo, o enigmático Sr. Darcy (Matthew Macfadyen).
Durante a festança, o salão fervilha de comentários e fofocas, mas é evidente que Jane e Bingley criam uma afinidade imediata. Enquanto isso, Lizzie (apelido de Elizabeth) acaba ouvindo, por acaso, algumas opiniões pouco gentis sobre si mesma vindas do carrancudo Sr. Darcy. Mais tarde, porém, ao participarem de uma roda de conversa, Elizabeth consegue demonstrar a ele, com inteligência e ironia, que subestimar alguém pela aparência é sempre um erro.
Alguns dias depois, Jane é convidada a conhecer Netherfied Park e a Sra. Bennet, percebendo o interesse de Bingley por sua filha mais velha, articula para que tal visita dure mais do que o esperado. O plano dá certo, mas Jane acaba adoecendo durante a viagem, o que obriga Elizabeth a sair de seu conforto e caminhar até a mansão para cuidar da irmã. Assim, ela acaba também passando alguns dias com Bingley, Caroline e Darcy. O que se finaliza com uma visita da mãe e das irmãs para as buscar.
Os acontecimentos que se seguem envolvem a visita inesperada do primo Sr. Collins (Tom Hollander), a chegada de um regimento de soldados à região e, sobretudo, o escândalo causado pelas mentiras do pouco confiável Sr. Wickham (Rupert Friend), que acaba comprometendo a honra de uma das irmãs Bennet. Soma-se a isso a dolorosa separação entre Jane e Bingley, resultado dos comentários maldosos sobre a família Bennet - especialmente a mãe -, acusada de querer apenas garantir um casamento vantajoso para a filha. É nesse cenário que Elizabeth se vê pressionada a aceitar um futuro matrimônio pelo qual não sente o menor interesse. Ao mesmo tempo, passa a encontrar com frequência o enigmático Sr. Darcy e a ser apresentada ao seu círculo: a tia Lady Catherine de Bourgh (Judi Dench) e o amigo Coronel Fitzwilliam (Cornelius Booth). Entre encontros inesperados, equívocos e revelações, nasce em Elizabeth um sentimento que ela jamais imaginou nutrir por alguém, muito menos por Darcy.
Donald Sutherland foi convencido pelo diretor a participar do filme, pois Joe o disse que ele o lembrava seu pai
A narrativa expõe as críticas de Austen à sociedade da época, um mundo que desprezava quem não possuía riqueza, cultivava inúmeros preconceitos e colocava as mulheres em posição de verdadeira prisão social. Sem direito à herança - já que qualquer posse do pai passaria obrigatoriamente a um herdeiro homem -, elas dependiam de bons casamentos para garantir sustento e respeito.
Além disso, para serem consideradas “recatadas e desejáveis”, esperava-se que fossem bonitas, soubessem costurar, ler, desenhar, tocar piano e portar-se com perfeição. Qualquer deslize, um comentário inadequado, uma atitude impulsiva, uma situação mal interpretada, poderia manchar sua honra e arruinar definitivamente o nome da família. Há também uma crítica incisiva à ideia de que, enquanto jovens, as mulheres teriam maiores chances de conseguir um bom casamento - mas, passada a faixa dos 26 anos, deveriam aceitar praticamente qualquer pretendente, já que deixavam de ser vistas como “adequadas” ou “desejáveis” pela sociedade da época.
Crédito de Imagens: ©Focus Films/Courtesy Everett Collection
A produção recebeu ao total 59 indicações em prêmios diversos
Com um texto afiado e performances memoráveis, o filme não apenas apresentou Keira Knightley ao mundo como atriz em ascensão, mas também revelou um grupo inteiro de jovens talentos. Carey Mulligan, por exemplo, fez aqui sua estreia no cinema. O elenco é um acerto absoluto em cada escolha, e a presença de Donald Sutherland e Judi Dench funciona como a cereja do bolo, adicionando peso e sofisticação à narrativa. Já Matthew Macfadyen, hoje celebrado por seu trabalho em Succession (2018-2023, HBO), continua sendo lembrado com carinho pelo público como o Sr. Darcy, o homem reservado e enigmático que se deixa transformar ao conhecer a extraordinária Lizzie Bennet.
Antes do filme de Joe Wright, outras adaptações já haviam marcado época. Entre as mais célebres está a série da BBC de 1995, estrelada por Colin Firth e Jennifer Ehle, cuja repercussão foi tão grande que transformou Firth no “Sr. Darcy definitivo”, influência direta para que ele fosse escalado como o interesse amoroso de Bridget Jones, personagem inspirada no romance de Austen. A trama também rendeu interpretações curiosas ao longo dos anos, incluindo uma versão de ação em que Elizabeth Bennet, interpretada por Lily James, enfrenta zumbis em “Orgulho & Preconceito & Zumbis”, adaptação que ganhou tanto livro (2009, Seth Grahame-Smith) quanto filme (2016, Burr Steers), além de várias outras releituras inusitadas.
Ao longo dos anos, o universo da autora expandiu-se muito além das páginas originais: livros, séries e filmes revisitaram suas tramas, adaptaram-nas para outras épocas ou até mesmo tentaram reimaginar sua vida. Entre esses, destaca-se o longa “Becoming Jane”, que busca retratar a juventude e os dilemas afetivos de Austen (disponível no Diamond+).
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