Entre pliés, écartés, pirouettes e soutenus, o jovem ator Matheus Abreu dá vida ao consagrado bailarino Thiago Soares, em seus primeiros anos de trajetória, desde o início no bairro de Vila Isabel até a consagração definitiva como primeiro bailarino no Royal Ballet de Londres. Esta história real de superação é o tema do filme brasileiro Um Lobo Entre os Cisnes, dirigido a quatro mãos por Marcos Schechtman e Helena Varvaki.
Thiago (Matheus Abreu), sempre em situação de desemprego ou com subempregos como caixa de supermercado, vive no subúrbio do Rio de Janeiro com sua tia, em uma casa humilde, sem muitos luxos. Sua diversão é dançar break e hip-hop nos grupos de jovens dos arredores. De grande talento na dança, mas com personalidade difícil, é convencido, para horror dele por ser homofóbico, a entrar na escola de balé de Raquel (Margarida Vila-Nova).
Lá, enquanto se envolve com a aluna Germana (Giullia Serradas), melhor bailarina da escola, Thiago cai nas graças de Raquel, que reconhece o talento inegável do garoto marrento e consegue convencer Dino, papel ator argentino Darío Grandinetti. O homem é um professor, de origem cubana, rígido e perfeccionista, que inicia a preparação do rapaz para um concurso em Paris. De início, recusando-se a monitorar um aluno tão rebelde e despreparado, Dino convence-se ao notar o grande talento embutido no jovem, que compensava a falta de técnica, vocação e graciosidade com muita força muscular e um desejo de vencer e aprender enormes, um lobo entre os cisnes.
O roteiro, a partir daí, concentra-se na relação entre os dois, nessa difícil interação entre professor e aluno. De um lado Dino, homossexual cubano que saiu de seu país para não ser perseguido, doente de aids, sentença de morte certa na década de 90, e que compensava sua fragilidade com muita rispidez no trato com os outros, uma vida solitária, regada a álcool , charutos e idas a saunas masculinas. Do outro Thiago, de apenas 15 anos, sem muita disciplina, pegador de garotas e muito amigo dos rapazes de sua vizinhança, popular por seus passos de dança nas rodas de break e hip-hop.
Crédito de Imagens: Pedro Faerstein/TvZero/ Mandrágora, Globo Filmes e RioFilme / Vitrine Filmes
Thiago Soares foi personagem também no documentário de Felipe Braga ''Primeiro Bailarino'', exibido na 41ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, em 2017
Os esforços, porém, do professor, após aulas exaustivas, são tão exitosos que, mesmo com muitas dificuldades, o rebelde Thiago supera-se e brilha tanto em Paris, que ganha o segundo lugar. De volta ao Rio de Janeiro, o bailarino passa a integrar o corpo de baile do Teatro Municipal da cidade, onde resolve permanecer, a despeito dos convites para atuar no exterior, para ajudar o seu tutor nos momentos difíceis da doença. As honrarias vão se sucedendo, prêmio principal no Concurso Internacional do Ballet Bolshoi, atuações como primeiro bailarino no Teatro Municipal, mas ele só aceita sair do país após a morte de seu professor.
Neste roteiro clássico de protagonistas inimigos que, após muitas querelas, acabam se tornando amigos, os protagonistas brilham. O ator brasileiro Matheus Abreu demonstra toda sua versatilidade em movimentos de dança difíceis, tanto do balé quanto do hip-hop. Darío Grandinetti mais uma vez apresenta-se como excelente, já tendo no seu currículo Fale com Ela (2002), de Pedro Almodóvar, e Relatos Selvagens (2014), de Damián Szifron, grandes filmes de sucesso internacional. Além disso, destaca-se a presença de Giullia Serradas, contraponto romântico do protagonista e que, por ser também bailarina, leva muita graça e beleza às sequências de dança do par de jovens pombinhos. O renomado ator Augusto Madeira faz participação especial no filme.
A fotografia e a direção de arte aproveitam muito bem o Rio de Janeiro e Paris, com muitas tomadas de áreas elevadas das cidades, uma clara referência ao quão alto o jovem ambicionava chegar. A trilha sonora é maravilhosa juntando músicas de hip-hop da época com música clássica e até mesmo baladas francesas; esse pout-porri de gêneros representa bem o quanto a vida de Thiago era dividida. Descrevendo todos esses perrengues, o bom roteiro, sem inovar ou se aprofundar muito em suas questões dramáticas, cria um filme leve de superação, com passagens inspiradoras de persistência e vontade de vencer. Uma boa história para se assistir e se entreter numa noite de cinema, ainda mais que faz parte do projeto Sessão Vitrine Petrobrás, que propicia aos espectadores ingressos a preços módicos.
Assistam mais esse bom exemplo do cinema brasileiro!
Nota: 7/10.
Trailer
Ficha Técnica
- Título Original e Ano: Um Lobo Entre os Cisnes, 2025. Direção: Marcos Schechtman e Helena Varvaki. Roteiro: Camila Agustini. Elenco: Matheus Abreu, Dario Grandinetti, Margarida Vila-Nova, Alan Rocha, Giullia Serradas, Igor da Silva Fernandes, Elvira Helena, Ester Dias, Maria Paula Marini, Juliana Delage. Participação Especial: Augusto Madeira. Gênero: Drama. Nacionalidade: Brasil. Trilha sonora original: Alexandre de Faria. Edição: Bruno Mauro. Edição de som e mixagem: Fernando Aranha. Direção de fotografia: Pedro Faerstein. Direção de arte: Dina Salem Levy. Figurino: Marcelo Pies. Caracterização: Rose Verçosa. Som direto: Pedro Sá Earp. Produção: Roberto Berliner e Marcos Schechtman, Leo Ribeiro e Sabrina Garcia. Produção executiva: Leo Ribeiro, Sabrina Garcia e Mauro Pizzo. Produção criativa: Guillermo Arriaga. Produção associada: Tuinho Schwartz, Marcelo Astrachan e Rosane Svartman. Coordenação de pós-produção: Guga Nascimento e Nat Mizher. Supervisão artística: Rosane Svartman. Produção: TvZero. Coprodução: Mandrágora, Globo Filmes e RioFilme. Distribuição: Vitrine Filmes / Sessão Vitrine Petrobras. Duração: 01h52min.
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