Um Homem, de Fabian Hernández | 46ª Mostra Internacional de Cinema São Paulo


                                                                                            COMPETIÇÃO NOVOS DIRETORES

Exibido na Quinzena dos Relizadores do Festival de Cannes. 

O filme Um Homem estará disponível para exibição na plataforma Spcine Play de 20 de outubro (quinta-feira) até 2 de novembro (ou até alcançar o limite de 800 visualizações). Assista aqui.

“Eu não quero dinheiro. Quero minha mãe e minha irmã!”

Antes de tecermos os comentários gerais acerca de “Um Homem”, longa-metragem de estreia do colombiano Fabian Hernández, convém elogiarmos demoradamente o extraordinário trabalho interpretativo de Felipe Ramirez, como o entristecido protagonista Carlos. A quantidade de vezes em que ele derrama copiosas lágrimas no filme, para, logo em seguida, reclamar consigo mesmo que “homem não chora”, é cativante. Toda a sua fragilidade converte-se em extrema força, ainda que essas duas características aparentemente opostas não sejam compreendidas como interseccionadas por quem é obrigado a sobreviver como delinquente nas ruas violentas de Bogotá…

Os responsáveis pela fotografia e pela direção de arte do filme são bastante sagazes no aproveitamento retórico dos aspectos citadinos, na inserção simbólica de um cenário em permanente demolição, assim como estão os sentimentos dos personagens, às voltas com a típica depressão natalina. Na maior parte das vezes, deparamo-nos com planos longos, que acompanham o protagonista de maneira deambulatória, com a câmera às suas costas, à la Béla Tarr ou Gus Van Sant; noutros momentos, a iluminação das boates e as pichações onipresentes das paredes dotam de um cariz essencialmente sul-americano o tipo de efeito que encontramos nos filmes de Wong Kar-Wai. Palmas para a excelente fotógrafa Sofía Oggioni, portanto!


Ficha Técnica
Título original e ano: Un Varón, 2022. Direção e Roteiro: Fabio Hernández. Elenco: Dylan Felipe Ramirez. Gênero: Drama. Nacionalidade: Colômbia, França, Holanda e Alemanha. Trilha Sonora Original: Mike & Fabien Koutzer. Fotografia: Sofia Oggioni. Design de Produção: Juan David Bernal. Edição: Nicolás Demasion. Produção: Medio de Contención Producciones. Duração: 82min.

Como não poderia ser diferente, o cotidiano de Carlos e seus colegas de internato é perpassado pelas rimas e pulsações atreladas às letras confessionais do ‘rap’. Numa seqüência que beira a epifania dançante, vários internos emocionam-se enquanto cantarolam a letra de “Angel”, do artista Gallego, cujo refrão diz o seguinte:
“Eu tenho um anjo que me protege dos invejosos.

E esse anjo não se importa se eu sou cruel.

Eu tenho um anjo que está sempre atrás de mim

E também um exército de guerreiros.

Esse anjo me protege daqueles que não são sinceros”...


O desfecho abrupto do enredo reforça o carácter cíclico da trajetória de frustrações de Carlos, que surge com uma nova modificação capilar a cada quinze minutos, no afã por encontrar o penteado definitivo, que lhe possa conferir a aparência masculina que ele assume que anseia sempre que se senta na cadeira de uma cabeleireira. A despeito da necessidade exterior de parecer mal-humorado, para não ser espancado por seus desafetos, Carlos é mui terno nas interações com quem conversa e deixa a nu as suas fragilidades. A cena em que ele reluta em ceder aos convites excitados de uma marafona que adora “colágeno” (gíria para jovens) é esplêndida. Idem para a imediatez com que ele comemora o que aconteceu: “fazia muito tempo que eu não transava”!

A curta duração desta obra (pouco mais de uma hora e vinte minutos) e o período exíguo de tempo em que transcorre as ações (o feriado natalino) permite que o filme estabeleça um ritmo célere intenso ao longo de sua metragem, tanto quanto estavam as pulsações do protagonista. Fica evidente que a maior parte dos coadjuvantes não possuem experiência prévia como atores, o que reforça a autenticidade da ambientação vicinal, em que os jargões repetitivos e cadenciados são necessários enquanto códigos de empoderamento marginal. O fato de o diretor ter exercido atividades de ensino cinematográfico em escolas públicas intensifica os seus méritos condutivos: queremos amparar Carlos, identificamo-nos com a sua solidão. Sentimos gana de dizer-lhe que sua mãe o ama, que não é um problema tão grande que sua irmã seja prostituta e que faz muito bem chorar. A vida, entretanto, demonstrar-lhe-á o contrário, de maneira brutal. Ao menos, tudo isso engendrou um valioso filme!

Vinheta da Mostra SP



Horários de exibição

20/10

14:30

CINE MARQUISE Sala 2

23/10

20:10

CINE SATYROS BIJOU

26/10

14:00

INSTITUTO MOREIRA SALLES - PAULISTA


Mais informações e compra do ingresso, visite o site da Mostra SP.


Site Oficial: https://46.mostra.org/

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Escrito por Wesley Pereira de Castro

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