Esperando Bojangles, de Régis Roinsard

 
Esperando Bojangles se inicia como um filme clichê hollywoodiano em que há amor à primeira vista seguido de uma profunda conexão, os mocinhos podem fazer as coisas mais estapafúrdias que não há consequência alguma. Os protagonistas são apresentados como pessoas interessantes apenas por agirem feito adolescentes imponderáveis e, inclusive, poderíamos acusar a mocinha de ser construída sobre o arquétipo da manic pixie dream girl se seu par romântico também não fosse uma versão masculina deste tropo. Felizmente, com pouco tempo de filme, há um salto temporal para mostrar o casal já com um filho de cerca de sete anos e então a narrativa aponta para outra direção.

Camille e Georges, vividos por Virginie Efira e Romain Duris, respectivamente, são um casal sonhador que não deixa as obrigações da rotina afetarem seu amor, suas demonstrações grandiosas de afeto e a criação do pequeno Gary, personagem de Solan Machado Graner, que é pautada principalmente pela regra da diversão. Incapaz de ser uma pessoa funcional e atender ao padrão e ritmo exigidos pela normatividade neurotípica, Camille nega as mais básicas responsabilidades adultas e decide viver a seu próprio modo: sem pagar contas, sem trabalhar, dando festas o tempo inteiro e educando o filho em casa. Georges, inicialmente apresentado como um trambiqueiro bon vivant, também mergulha nesse estilo de vida.

Por mais que tenham a ajuda de um rico amigo senador que lhes garante acesso a negócios vantajosos de dinheiro fácil, uma hora a realidade cobra seu preço. Para começar, a família está prestes a perder a casa e Georges terá que voltar a trabalhar presencialmente em um escritório. Às vésperas de ver isso se tornar uma realidade, Camille, movida por um impulso, toma uma atitude drástica e sem retorno. Ela prefere que tudo vá pelos ares a levar uma vida em que não pode suprir suas necessidades e desejos espontâneos a todo instante.

Em meio a tramas fabulescas e em tom de conto de fadas (como a presença de uma enorme ave silvestre chamada Mademoiselle Supérflua caminhando pelo apartamento), o mundo real vai tomando conta aos poucos. Em determinado ponto, vai ficando claro que os caprichos de Camille têm muito mais a ver com sérios transtornos mentais do que com uma simples rebeldia ou o desejo por um estilo de vida diferente. Tanto os métodos arcaicos dos hospitais psiquiátricos da época (década de 1960) quanto a recusa a qualquer tratamento trarão repercussões graves.

Créditos: Califórnia Filmes / Divulgação
A produção é baseada no best-seller homônimo de Olivier Bourdeaut

O curioso, a partir da metade do longa-metragem, é enxergar toda a situação através dos olhos de Gary. Além da perspectiva fantástica própria de qualquer criança, Gary tem o agravante de ter sido criado em um mundo de mentiras fantasiosas e escapismo. No entanto, a mesma criação lhe proporcionou um entendimento acurado da vida, pois seus pais nunca lhe esconderam coisas só porque “crianças não deveriam saber disso”. Esses dois fatos fazem do garoto uma criança adorável e perspicaz. É arrebatador ver seus olhinhos entendendo a dureza da realidade enquanto se dá conta das coisas que estão acontecendo.

Trailer


Ficha Técnica
Título original e ano: En Attendant Bojangles, 2021. Direção: Régis Roinsard. Roteiro: Romain Compingt e Régis Roinsard. Elenco: Romain Duris, Virginie Efira, Grégory Gadebois, Solan Machado Graner. Gênero: Drama. Países: França e Bélgica. Trilha Sonora Original:Clare e Olivier Manchon. Fotografia: Guillaume Schiffman. Design de Produção: Sylvie Olivé. Edição: Loïc Lallemand. Distribuição: Califórnia Filmes. Duração: 125min.
03 DE NOVEMBRO NOS CINEMAS

Escrito por Luana Rosa

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