A Viagem de Pedro, de Laís Bodansky


A Academia Brasileira de Cinema e Artes Audiovisuais anunciou os seis filmes pré selecionados (entre os 28 inscritos e habilitados) para concorrer à indicação ao Oscar 2023 esta semana. Esta foi apenas a primeira etapa, já que este ano, pela primeira vez, a eleição será realizada em dois turnos, sendo que a segunda votação ocorrerá na próxima segunda-feira, 05 de setembro. Entre os quase finalistas está “A Viagem de Pedro”, longa de Laís Bodansky que está debutando nos cinemas brasileiros.

O filme vem ganhando visibilidade por chegar neste momento em que o País atinge o marco de 200 anos de Independência de Portugal, e, principalmente ,por desconstruir a imagem daquele que é considerado o pilar desta independência. O roteiro co-escrito pela própria diretora, juntamente com Luiz Bolognesi e Chico Mattoso traz um olhar intimista sobre a vida do Imperador D. Pedro I em um momento bastante decisivo de sua história pessoal.

Ressignificar uma personagem que a História oficial retrata como o salvador do país é um ato corajoso e estritamente necessário. Outros filmes já apresentaram outras faces do Imperador, mas nenhum deles foi tão real e humano.

No elenco temos: Cauã Reymond (D, Pedro I), Luiza Cruz (Carlota Joaquina), Luise Heyer (Leopoldina), Rita Wainer (Domitila), Isabel Zuaa (Dira), Welket Bungué (Contra Almirante Lars), Isac Graça (Miguel), Vitória Guerra (Amélia), Sérgio Laurentino (Chef), entre outros.

Trailer

Ficha Técnica
Título original e ano: A Viagem de Pedro. Direção: Laís Bodansky. Roteiro: Laís Bodansky, Luiz Bolognesi, Laura Malin e Chico Mattoso. Elenco: Cauã Reymond, Luise Heyer, Victoria Guerra, Isabél Zuaa, Rita Wainer, Francis Magee, Welket Bunguê, João Lagarto, Luísa Cruz, Isac Graça, Luiza Gattai, Dirce Thomas, Marcial Mancome, Sergio Laurentino, Calvin Denangowe. Gênero: Drama, Biografia. Nacionalidade: Brasil e Portugal. Música: Plinio Profeta. Fotografia: Pedro J. Márquez. MontagemEduardo Gripa. Empresas ProdutorasBiônica Filmes, Buriti Filmes, Sereno Filmes, O Som e a Fúria. Produção: Bianca Villar, Cauã Reymond, Fernando Fraiha, Karen Castanho, Laís Bodanzky, Luiz Bolognesi, Mário Canivello, Luís Urbano, Sandro AguilarDistribuição: Vitrine Filmes. Duração: 96min.

A cena inicial com a estátua de Napoleão como modelo a ser almejado já entrega ao público um perfil da personalidade do protagonista. O contexto histórico: 13 de abril de 1831. D. Pedro I, o primeiro Imperador do Brasil, após a proclamação da independência de Portugal, abdica do trono e prepara-se para embarcar às pressas com toda comitiva na fragata de guerra inglesa Warspite para regressar a Portugal. Malquisto em terras brasileiras, considerado um traidor pelo trono português, Pedro está em um momento de profunda reflexão. Quantos erros e acertos teria cometido desde que chegou ao Brasil com a Família Real quando tinha apenas 10 anos, em 1808?

Curiosamente, a narrativa não se dá nem em terras tupiniquins, nem em solo lusitano, mas em alto mar, em águas internacionais onde todos desfrutam de “liberdade oceânica”. Um mar de coloração nunca antes visto por Pedro. À bordo da fragata, uma verdadeira torre de Babel, havia desde os oficiais e marujos, até os membros da corte que serviam ao imperador e escravos, esperançosos por ouvir que no destino final já não havia escravidão. A mistura de idiomas, hábitos, condicionamentos e regras em um ambiente confinado causava constantes embates, revelando desigualdade social e racismo. As personagens da escrava Dira, do Contra Almirante Lars e do Chef se destacam e entregam momentos que levam a reflexão sobre questões coloniais e escravistas.

D. Pedro deixou no trono brasileiro seu filho D. Pedro II e foi enfrentar seu irmão Miguel a fim de reivindicar a sucessão ao trono de Portugal e o território de Algarve para sua filha Maria. Sua primeira esposa, Maria Leopoldina da Áustria, imperatriz consorte do Brasil, havia morrido em 1826 em decorrência de um aborto espontâneo. A atual esposa era D. Amélia. O arrogante D. Pedro gabava- se das muitas mulheres com quem se deitava, incluindo a amante Domitila de Castro.

Em tempos onde ser o macho conquistador inclui submeter as mulheres aos seus prazeres, Pedro se vê acometido pela impotência sexual, provavelmente oriunda de alguma doença ainda desconhecida.

Créditos: Divulgação    

“Como ganhar uma guerra de p… mole?”

Doente, inseguro, temendo os perigos do mar, encarando o declínio de sua masculinidade, D. Pedro entra em um estado delirante, onde a voz alemã de Leopoldina se confunde com cenas de sua infância, sua amante e encontros fantasiosos com o irmão. Mais do que uma viagem real cruzando os mares, Pedro embarca em uma viagem íntima e questionadora. As tempestades emocionais são tão intensas quanto as reais. E, ao final, temos os dois aspectos dessa figura que politicamente se espelhava no líder militar e estadista francês, mas intimamente enfrentava as mesmas angústias e inseguranças de qualquer ser humano mortal.

A coprodução Brasil-Portugal chega aos cinemas em um momento crucial da História do Brasil, às vésperas das eleições que carregam o peso e as esperanças de mudanças. A pandemia atrasou a estreia, que aconteceu na 45ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo e também no 23 Festival do Rio, mas permitiu que a obra chegasse aos cinemas no momento exato.

Que tenhamos realmente um Brasil independente!!

HOJE NOS CINEMAS

Escrito por Helen Ribeiro

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