Ferrari, Michael Mann | Assista na Cinemas

 
Surfando na onda da moda de filmes sobre marcas como ''BlackBerry'' (Matt Johnson, 2023) e ''Air'' (Ben Affleck, 2023), Ferrari tem sua estreia brasileira em meio aos lançamentos do Oscar deste ano. No entanto, a convergência destes temas trata-se muito mais de zeitgeist do que algo planejado pelo diretor Michael Mann e seus produtores. Isto porque o projeto vinha sendo pensado há nada menos que duas décadas. E além disso, para a frustração de alguns, o nome do longa-metragem se refere mais ao magnata Enzo Ferrari (Adam Driver) que à empresa criada por ele.

O roteiro (baseado no livro biográfico escrito por Brock Yates) escolhe focar em um momento crítico da vida do milionário ao invés de se debruçar sobre a criação da marca ou a descoberta de sua paixão por carros de corrida. Com o casamento com Laura (Penélope Cruz) falido e sua amante Lina (Shailene Woodlen) cobrando para que seu filho bastardo seja assumido, Enzo deve lidar ainda com uma crise financeira em sua empresa, o fantasma das mortes de seu primogênito e dois grandes amigos e a aproximação de uma corrida decisiva para o futuro de seu legado, a Mille Miglia, de 1957.

Como em todos os seus outros filmes, Mann faz desta uma obra sobre masculinidade. Seja quando reis encomendam carros de corrida para andar no centro da cidade, seja quando os pilotos negligenciam a manutenção de seus automóveis por uma chance de ganhar, seja quando Enzo demonstra seus delírios de grandeza, vemos um comentário sutil acerca do desejo por poder, adrenalina, controle. Chega a ser um pouco patético pensar que havia tantos homens dispostos a competir em um esporte tão letal que os levava a escrever cartas de despedida para suas famílias antes de cada competição.

 Créditos: Diamond Films Brasil/ STX Entertainment/ Foward Pass / Storyteller Productions / lervolino & Lady Bacardi Entertainment /
 Devido a alta taxa de mortes de pilotos e espectadores (mais de cinquenta óbitos), o percurso ''Mille Miglia'' foi permanentemente cancelado após 1957


Não é desta vez que Mann erra na condução. O ritmo é incrível, não se sente o tempo passar. Além disso, a fotografia de Erik Messerschmidt é muito bem decupada, principalmente nas cenas de ação, como era de se esperar. O ponto fraco da obra, é que, apesar de suas virtudes, a história soa extremamente desinteressante para quem não é fã do universo automobilístico. Nem toda a investida na história pessoal de Enzo consegue mudar isso.

Ademais, é inacreditável que a escola de dirigir os atores de forma a performar sotaques estrangeiros enquanto falam suas línguas maternas para fingir que são daquele país esteja tão naturalizada. Ou fizesse o filme com atores italianos, ou assumisse que há a liberdade poética de contar uma história italiana com atores anglófonos e abandonasse o sotaque. Colocar todo o elenco para falar inglês com sotaque italiano soa como quando as novelas globais de Glória Perez investem em abordagens estrangeiras surreais. 

Mas quando conseguimos abstrair isso, podemos apreciar a estética impecável da obra e até atuações fora da média, como a de Penélope Cruz na pele de uma esposa amargurada, enlutada, rancorosa, mas que ainda assim é capaz de pensar o que é melhor para seu marido. Outro destaque é a cena do acidente sofrido por Alfonso de Portago, vivido pelo brasileiro Gabriel Leone. Além de lançá-lo em Hollywood, este longa também funciona como uma preparação para Gabriel, que encarnará Ayrton Senna na cinebiografia que será lançada ainda esse ano.

Trailer
Ficha Técnica
Título Original e Ano: Ferrari, 2023. Direção: Michael Mann. Roteiro: Troy Kennedy Martin — baseado no livro de Broke Yates ‘’Ferrari — O Homem Por Trás das Máquinas’’.Elenco: Adam Driver, Gabriel Leone, Patrick Dempsey, Damiano Neviani, Shailene Woodley, Giuseppe Festinese, Alessandro Cremona, Derek Hill, Domenico Fortunato, Jacopo Bruno,Leonardo Caimi, Penélope Cruz,Michele Savoia. Gênero: Drama, Biografia. Nacionalidade: Estados Unidos da América, China, Reino Unido e Itália. Trilha Sonora Original: Danil Pemberton. Fotografia: Erik Messerschmidt. Edição: Pietro Scalia. Distribuidora: Diamond Films Brasil. Duração: 02h10min.
 
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Escrito por Luana Rosa

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