A Prisioneira De Bordeaux, de Patricia Mazuy

 

Alma Lund (Isabelle Huppert) – mulher francesa, de excelente status social, financeiramente estável, leva uma vida tradicional e rotineira em uma residência imensa, em bairro nobre.Mina Hirti (Hatsia Herzi) – imigrante de origem árabe, trabalhadora assalariada, mãe de dois filhos pequenos, vive em conjunto residencial na periferia com auxílio do governo. Duas mulheres completamente distintas e, ao mesmo tempo, tão semelhantes. O destino as une na antessala de um presídio em um dia comum de visitas – os maridos de ambas estão cumprindo pena. Alma comparece apenas para cumprir a agenda; já fez isso mais de uma centena de vezes. Mina ainda confunde os dias. Após mais de três horas de viagem, não tem permissão para entrar. Contrariando a fama de classista e preconceituosa dos franceses, Alma demonstra empatia e se compadece da situação de Mina, oferecendo-lhe estadia em sua casa. Uma amizade improvável nasce entre elas, que se reconhecem como mulheres carentes e presas a casamentos disfuncionais.

Sororidade, fraternidade, caridade – não importa o nome do elo entre elas. Ambas sabem que não apenas os maridos foram privados de liberdade; elas também. Alma abriu mão da carreira pelo casamento e aceitou as traições do companheiro, arrastando uma relação fadada ao fracasso. Tem tudo o que o dinheiro pode comprar, menos felicidade e alegria de viver. Seus dias seguem automatizados entre flores e doces sofisticados. Mina cria os filhos Noor e Juliene praticamente sozinha, entregando juventude e beleza a uma lavanderia de subúrbio. 

Crédito de Imagens: Rectangle Productions, Picseyes - Autoral Filmes, Divulgação

O longa foi indicado ao prêmio SACD do Directors Fortnight''

O marido de Alma, Christopher (Magne-Håvard Brekke), um médico renomado, atropelou duas pessoas ao dirigir alcoolizado, uma das vítimas falece. Conta com boas relações profissionais e advogados caros e “competentes” para encontrar brechas na lei. O marido de Mina, Nasser (Lionel Dray), assaltou uma joalheria e provavelmente “mofará” na prisão, à espera da justiça morosa e parcial. O comparsa, Yacine (William Edimo), ainda a persegue e chantageia para recuperar parte do produto do roubo. A trama acompanha a rotina dessas duas mulheres, abordando de forma casual temas densos como classe social, posição da mulher na sociedade patriarcal, maternidade, liberdade, preconceito, relações afetivas, confiança e traição.

O ponto forte da película, além da cenografia e da bela trilha sonora, são as atuações impecáveis das protagonistas. Isabelle Huppert dispensa comentários – como um bom vinho francês, entrega atuações cada vez mais apuradas com o passar dos anos. Hafsia Herzi interpreta uma personagem sofrida e bela, com semblante de quem carrega o mundo de responsabilidades nas costas, sem tempo nem direito a sofrer.

A Prisioneira de Bordeaux, dirigido por Patricia Mazuy, com roteiro de Pierre Courrège, François Bégaudeau e Patricia Mazuy, em colaboração com Émilie Deleuze, foi exibido na Quinzena dos Realizadores, em Cannes, e chegou aos cinemas brasileiros em 7 de agosto, seguindo em cartaz. A distribuição é da Autoral Filmes.

Trailer

Ficha Técnica

Título Original e Ano: La prisonnière de Bordeaux, 2024. Direção: Patricia Mazuy. Roteiro: Pierre Courrège, François Bégaudeau e Patricia Mazuy com a colaboração de Émilie Deleuze. Elenco: Isabelle Huppert, Hafsia Herzi, Noor Elsari, Jean Guerre Souye, Julien William Edimo, Jana Bittnerova, Magne Havard Brekke, Lionel Dray, Robert Plagnol, Julia Vivoni, Lola Jehl. Nacionalidade: França. Gênero: Drama. Direção de Fotografia: Simon Beaufils. Montagem: Mathilde Muyard - Lma. Som: François Boudet, Jean Mallet, Nathalie Vidal. Direção de Arte: Dorian Maloine. Figurinos: Caroline Spieth. Trilha sonora: Amine Bouhafa. Produção: Alice Girard e Édouard Weil (Rectangle Productions), Xavier Plèche (Picseyes). Coprodução: ARTE France Cinéma. Distribuição: Autoral Filmes. Duração: 1h48

O final surpreende como todo bom filme francês. Certamente agradará a um público seleto.

EM EXIBIÇÃO NOS CINEMAS

Escrito por Helen Ribeiro