Elvis, de Baz Luhrmann | Assista nos Cinemas


Um showman capaz de construir obras grandiosas e despertar sensações inexplicáveis, amado por muitas pessoas e rechaçado por tantas outras. Estou falando, é claro, do cineasta australiano Baz Luhrmann. Trata-se do homem conhecido por misturar temas clássicos e música Pop moderna de forma quase febril, com seu estilo ousado, barulhento e orgulhosamente cafona de fazer Cinema. Com uma identidade artística que carrega todos estes adjetivos dúbios, talvez não houvesse pessoa mais indicada para dirigir uma cinebiografia sobre Elvis Presley.

Elvis, de Baz Luhrmann, é tida como a reconstrução cinematográfica definitiva da vida do icônico rockstar, interpretado aqui por Austin Butler. No longa, Elvis é um jovem artista audacioso influenciado pela música negra, rapidamente abraçado pela juventude estadounidense devido a sua rebeldia frente aos padrões da época e seu irresistível “rebolado obsceno”. Logo, torna-se um fenômeno, abalando a indústria da música e conquistando o mundo, mas não sem dolorosas consequências em sua vida pessoal.

O roteiro co-escrito pelo próprio Luhrmann explora muito do potencial melodramático da trajetória de Elvis, apesar de tomar liberdades criativas que simplificam passagens da vida do cantor e suavizam detalhes polêmicos (convenientemente omitindo, por exemplo, o fato de que Priscilla Presley tinha sequer 15 anos de idade quando conheceu Elvis, 10 anos mais velho do que ela). A trama é apresentada através da perspectiva do antagônico empresário de Elvis, Tom Parker, interpretado por Tom Hanks. O relacionamento profissional de Parker e Elvis é um dos principais focos do filme, servindo como catalizador de boa parte dos dramas da trama, mesmo que por um viés um tanto maniqueísta. O roteiro acertadamente estabelece desde o início a forma como Elvis se inspirava no Blues e no Gospel da comunidade negra dos Estados Unidos, dizendo com todas as letras que apenas um artista branco teria espaço nas rádios e TVs cantando e dançando como ele. Ainda assim, a indústria tentava, sem sucesso, encontrar meios de podar e “higienizar” seu trabalho, afim desvinculá-lo de suas influências negras para reformulá-lo numa roupagem mais “comercial”.

Trailer

Ficha Técnica

Título original e ano: Elvis, 2022. Direção: Baz Luhrmann. Roteiro: Baz Luhrmann, Sam Bromell, Craig Pearce e Jeremy Dorner. Elenco: Austin Butler, Tom Hanks, Olivia DeJonge, Helen Thomson, Richard Roxburgh, Kelvin Harrison Jr., David Wenham, Kodi Smit-McPhee, Alton Mason, Shonka Dukureh. Gênero: Biografia, drama, musical. Nacionalidade: Eua, Australia. Trilha Sonora Original: Elliott Wheeler. Fotografia: Mandy Walker. Edição: Jonathan Redmond e Matt Villa. Design de Produção: Catherine Martin e Karen Murphy. Supervisor de direção de arte: Ian Gracie.  Figurino: Catherine Martin. Distribuidora: Warner Bros Pictures Brasil. Duração: 02h29min. 

Os vícios e maneirismos de Luhrmann em Elvis estão muito mais contidos do que na espalhafatosa e carnavalesca adaptação de O Grande Gatsby que o cineasta dirigiu em 2013. Contudo, sua inconfundível identidade visual maximalista garante imponência à sua nova empreitada. A montagem do longa oscila entre momentos introspectivos e outros vertiginosamente pirados, cheios de efeitos visuais e velocidade. As performances musicais, obviamente, são um dos maiores trunfos de Elvis. Como de costume, Luhrmann mistura o clássico e o contemporâneo num caleidoscópio de referências que, de alguma forma, dialogam entre si. Doja Cat e Eminem talvez não sejam as escolhas mais óbvias para a trilha sonora de uma cinebiografia de Elvis Presley, mas Luhrmann tenta ao máximo fazer suas firulas Pop funcionarem. E consegue.

A Música, aliás, é tratada como um personagem em si na construção da trama, um misto de experiência religiosa com descoberta sexual. A epifania de Elvis ao se apaixonar pela Música mistura estes dois elementos, assim como das mulheres que gritam em frenesi ao verem Elvis performar de forma provocante e sedutora nos palcos, despertando nelas sensações proibidas e, até então, desconhecidas. Construindo uma aura quase de sonho à participação da música na história de Elvis, como se fosse a única coisa capaz de trazer sentido à sua vida, Luhrmann não apenas cria cenas belíssimas, como as integra à narrativa de forma coesa e orgânica, tornando-as majestosas, mas também muito pessoais. Neste sentido, Elvis se assemelha mais ao intimista conto de fadas Rocketman do que ao hiperbólico e caricatural Bohemian Rhapsody. Baz Luhrmann consegue fluir entre momentos de grandiosidade e vulnerabilidade, trazendo texturas e personalidade autoral vívida a um material que, nas mãos de uma pessoa menos intensa e apaixonada, poderia soar como um mero artigo da Wikipedia.


Grande parte do sucesso de Elvis deve-se à exemplar performance de Austin Butler como Elvis Presley. Tendo disputado o papel com atores muito mais conhecidos como Ansel Elgortm Miles Teller, Aaron Taylor-Johnson e Harry Styles, Butler prova ter sido a escolha mais acertada para interpretar Elvis, emprestando corpo e alma ao cantor numa interpretação definidora de carreiras. Com tantos elogios, é até possível perdoar Tom Hanks, fazendo o que pode pra conseguir atuar com tanta maquiagem e próteses corporais como Tom Parker. Algo entre vilanização do roteiro à persona real e a artificialidade exigida para interpretar o personagem fez com que um dos atores mais queridos da História soasse como uma caricatura.

O produto final deixa óbvia a admiração de Baz Luhrmann por Elvis, que é tratado como uma lenda, uma força da natureza, mas também como uma pessoa comum e falha. Assim como muitos dos personagens do cineasta, Elvis é uma figura que mistura beleza, melodrama e tragédia. E Luhrmann é um dos poucos diretores de Hollywood com paixão e energia suficientes pra trazer ao mundo um Elvis com a grandeza necessária. Dentro das imperfeições de ambos, um casamento perfeito.

14 de Julho nos Cinemas

Escrito por Petterson Costa

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