Corpolítica, de Pedro Henrique França | 46ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo


                                                                                                                                       MOSTRA BRASIL
Exibido no Brasilia International Film Festival de 2022, Selecionado para o Chicago Indie Awards 2022, Mostra Competitiva Queer Lisboa 2022 e Seleção Oficial do Festival do Rio 2022 

Muito se fala sobre a representatividade, sobre a importância de ocupar espaços sociais, brigar a tapa pela aceitação. É um discurso aparentemente muito poderoso, mas efetivo apenas na superfície. Como um grupo marginalizado pode se sentir representado ao ser visto sempre como a exceção? Como ocupar um espaço historicamente negado a você pelos grupos hegemônicos no poder, que são capazes de reagir até violentamente para manter o status quo? Em todos os campos da sociedade se discute meios possíveis para se integrar grupos minoritários à equação, a fim de dar voz às pessoas silenciadas e tornar espaços representativos mais acolhedores e equilibrados em relação às estatísticas sociais reais. Porém, setores conservadores são resistentes a políticas de inclusão e combate ao preconceito, contribuindo diretamente para a continuidade da estigmatização e desumanização destes grupos invisibilizados, que, ainda assim, tem representantes que se esforçam em ser referência e fazer a diferença.

'Corpolítica', estreia do roteirista, diretor e jornalista Pedro Henrique França no Cinema, acompanha candidaturas de pessoas LGBTQIAP+ nas eleições municipais de 2020. Erika Hilton, Monica Benicio, William de Luca e Andrea Bak são personagens do longa, que apresenta vitórias e desventuras de suas biografias, assim como o que motivou seu envolvimento com a Política e segue de perto os bastidores de suas experiências na corrida eleitoral. O filme traz ainda depoimentos de outras personalidades políticas, como Jean Wyllys, Thammy Miranda e Fernando Holiday, falando sobre suas vivências nos bastidores do poder e as barreiras e desafetos que precisaram superar devido às suas orientações sexuais e/ou de gênero.

França traz sua experiência prévia como roteirista e diretor de séries documentais, fazendo com que as entrevistas e imagens de arquivo usadas em 'Corpolítica' soem sempre dinâmicas e envolventes, dando um senso de movimento admirável às cenas. Com alguns créditos de direção de videoclipes músicas em seu currículo, o cineasta consegue dar um belo tom cinematográfico a cenas que, em outros contextos, poderiam ser construídas de forma convencional e mecânica. Em sua primeira aventura no Cinema, França prova que sabe muito bem o que está fazendo.


Ficha Técnica
Título Original e Ano: Corpolítica, 2022. Direção e Roteiro: Pedro Henrique França. Participações de Andréa Bak, Erika Hilton, Fernando Holiday, Monica Benicio, Thammy Miranda e William De Lucca. Gênero: Documentário. Nacionalidade: Brasil. Trilha Sonora Original: Pedro Santiago. Som: Katia Dotto. Fotografia: Dudu Mafra. Edição: Bem Medeiros e APTA. Identidade visual: Luiz Wachelke. Motion Design: André Vernieri, Felipe Alonso. Som Direto: Anne Santos. Colorista: Fabrício Batista. Still: Liz Dórea. Pesquisa de Imagem: Tiago Castro Gomes. Produtora: Representa e Pigossi Produções Artistíticas. Produção Executiva: Marco Pigossi, Nathalia Ribeiro. Produtor: Marcos Pigossi e Pedro Henrique França. Coprodutora: ACME. Distribuição: Vitrine Filmes. Duração: 102min.

O longa de França acerta ao construir um tom de intimidade com as personas que o protagonizam, usando de suas histórias pessoais para ilustrar as vivências da comunidade LGBTQIAP+ no Brasil. Além de humanizar e apresentar camadas interessantes destas personagens, os depoimentos que o diretor extrai delas levantam questionamentos bastante pertinentes. Como, por exemplo: de que forma a representatividade deixa de ser apenas uma performance simbólica e se reverte em potenciais mudanças concretas nas vidas das pessoas da comunidade? Existe uma representatividade política efetiva quando a pessoa eleita não levanta bandeira em nome dos grupos minoritários dos quais faz parte, isentando-se do debate público? As ricas reflexões levantadas pela obra, contudo, não a tornam menos acessível ou cativante.

É notável o desafio de ‘Corpolítica’ em ousar retratar um momento histórico único nos tempos atuais em que uma pandemia global inviabilizou a mobilização política de grupos minoritários nas ruas, ao mesmo tempo em que foi registrado um recorde de candidaturas de representantes da comunidade LGBTQIAP+ a cargos às câmaras municipais no Brasil. Tal fenômeno resultou em feitos significativos, como a eleição da primeira vereadora trans do Brasil, Erika Hilton, que, inclusive, foi a candidata feminina mais votada do país. Produzido pelo diretor do longa e pelo ator Marco Pigossi, o filme demonstra com potência a relevância do protagonismo de grupos marginalizados na Política e da inclusão de pautas identitárias no debate público, questionando um sistema que insiste em negar existências e vivências consideradas “indignas”.

Vinheta da Mostra SP



Horários de exibição

27/10

20:45

ESPAÇO ITAÚ DE CINEMA - FREI CANECA 2

29/10

16:05

INSTITUTO MOREIRA SALLES - PAULISTA


Mais informações e compra do ingresso, visite o site da Mostra SP.


Site Oficial: https://46.mostra.org/

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Escrito por Petterson Costa

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