O Sabor Da Vida, de Anh Hung Tran | Assista nos Cinemas


Eugénie (Juliette Binoche) é A Cozinheira. Dodin (Benoit Magimel) é O Amante. Pauline (Bonnie Chagneau-Ravoire) é A Aprendiz. Através da interação desses símbolos, desenrola-se um enredo filosófico encantador sobre a beleza, o prazer e o amor. O diretor vietnamita Anh Hung Tran, conhecido pelo sucesso cult O Cheiro da Papaia Verde (1993), cria um poema visual tão belo que, em algumas sequências, o espectador perde o fôlego.

Ganhador do prêmio de melhor direção em Cannes, o ''O Sabor da Vida'' é a estória de um endinheirado francês que, com sua amante e cozinheira, faz verdadeiros milagres culinários, para sua satisfação e de alguns poucos amigos. A vida de ambos é toda voltada para o contentamento de cozinhar e comer. As cenas dos banquetes sendo preparados é uma festa para os sentidos. Praticamente, sente-se o odor saindo das panelas fumegantes, em um deleite permanente para todos os envolvidos. Principalmente para Pauline, a sobrinha de uma empregada que é apresentada pela primeira vez aos prazeres da alta culinária.

Mas neste mundo perfeito, de extrema beleza, começam a surgir imperfeições. Eugénie fica enferma. Dodin, arrasado, a convence a se casar com ele, oficializando a relação marital que já têm há anos. O casal tenta convencer os pais de Pauline a deixarem-na na cozinha da mansão, como aprendiz. O talento da jovem é inegável, tem que ser desenvolvido.

Créditos: Curiosa Films, Gaumont, France 2 Cinéma, Umedia e Canal+

A produção foi a escolha da França para a submissão na competição do Oscar de ''Melhor Filme Internacional'' causando grande polêmica visto a aclamação de ''Anatomia de Uma Queda''.

Enquanto as vicissitudes da vida atrapalham o enlace perfeito, a culinária é apresentada como alegoria as temáticas que se desenrolam na película. As preparações dos banquetes, a apresentação dos pratos, sua degustação, o prazer das conversas dos comensais satisfeitos, são mostrados nos mínimos detalhes. Nessa profusão de imagens extasiantes, os atos vão se passando, numa eterna sedução entre A Cozinheira e O Amante. A Aprendiz tudo observa.

É um conto filosófico, não se sente personagens reais, mas essa parábola encanta e serve como alegoria para muitas situações pelas quais passamos. O diretor meticulosamente cria sua obra-prima não apenas para entreter, mas para refletir, e porque não, ensinar. Os diálogos claramente revelam isto. Entre gemidos de satisfação com cada garfada, passeios pelas hortas para colher os alimentos frescos, novas experiências culinárias, as imagens, de extrema beleza, vão saciando os sentidos do espectador com um abecedário de sensações.

Os personagens-símbolos das situações estão maravilhosos. O trabalho corporal destes na cozinha é encenado com o vigor e a delicadeza necessários para expor como as delícias culinárias são criadas. A fotografia que explora o palco dos acontecimentos é naturalmente belíssima, aproveitando cada detalhe do local. As encenações dos banquetes são perfeitas, sente-se vontade de degustar os pratos, percebe-se a força dos diálogos numa verdadeira festa dos sentidos.

Escolha fracassada da França para representá-la no Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, pois não foi indicada, essa obra atemporal não conversa com a contemporaneidade, nem é este seu propósito. Anh Hung Tran engendrou mais um cult movie. Daqueles que os cinéfilos vão sempre conhecer e respeitar.

Nota: 9,5/10.
Trailer


Ficha Técnica

Título Original e Ano: La passion de Dodin Bouffant, 2023. Direção: Anh Hung Tran. Roteiro: Anh Hung Tran - adaptação do livro homônimo Marcel Rouff. Elenco: Juliette Binoche, Benoit Magimel, Bonnie Chagneau-Ravoire, Patrick d'Assumçao, Galatéa Bellugi, Jan Hammenecker, Frédéric Fisbach. Nacionalidade: França e Bélgica. Gênero: Drama, Romance. Fotografia: Jonathan Ricquebourg. Edição: Mario Battistel. Design de Produção: Toma Baqueni. Figurino: Nu Yên-Khê Tran. Distribuidora: Diamond Films Brasil. Duração: 135 min.

Baseado no livro ''The Passionate Epicure: La Vie et la Passion de Dodin-Bouffant, Gourmet'', de Marcel Rouff.

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Escrito por Marcelino Nobrega

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