Uma geração muito específica nascida nos anos 1990 conviveu com a ascensão e a queda das videolocadoras e vivenciou consideráveis fenômenos culturais que ocorreram nesse contexto na época. No campo do Horror, títulos como Pânico, A Experiência, Eu Sei o Que Vocês Fizeram no Verão Passado, A Bruxa de Blair e Anaconda causavam frisson tanto pelo medo quanto pelo riso e geravam uma infinidade de sequências e cópias. Porém, poucas franquias surgidas nesse período tão peculiar do Cinema foram tão imaginativas quanto Premonição. Se você foi uma das pessoas marcadas por esta franquia (numa idade provavelmente muito inferior à sugerida pela Classificação Indicativa), certamente dá um risinho de nervoso toda vez que cruza na estrada com um caminhão levando um carregamento de toras de madeira. Você talvez, também, prefira evitar colocar bebida gelada numa caneca que até pouco tempo antes continha chá quentinho. E você sem sombra de dúvidas pensa duas vezes antes de se deitar numa câmara de bronzeamento artificial. A franquia Premonição nunca se destacou exatamente pelo bom gosto narrativo ou pela excelência de suas atuações: o diferencial sempre foi o esforço criativo em construir cenas cada vez mais hiper-elaboradas, engenhosamente violentas e potencialmente traumatizantes. Mas não se tratava da carnificina indiferente e quase pornográfica dos incontáveis capítulos de Jogos Mortais, por exemplo: era uma brutalidade nascida da curiosidade, do inusitado, do estabelecimento esperto (e sem muito comprometimento com a verossimilhança) de sequências grandiosas e divertidas baseadas no suspense e na antecipação. Ainda que boa parte da graça, claro, fosse consequência da violência mais e mais explícita a cada novo filme lançado, o segredo da franquia estava mais no senso de humor cínico e sem vergonha por trás das mortes de seus personagens. Filme após filme, a mesma fórmula se repetia: um grupo de jovens aparentemente sortudos sobrevive a um acidente, alertados por uma premonição tida por um deles, apenas para serem perseguidos por uma força implacável que não descansará até eliminar todos aqueles que escaparam de seu destino. Com 5 produções lançadas com intervalos relativamente curtos entre si, Premonição volta aos cinemas após um hiato de quase 15 anos, com potencial para atrair o público antigo e conquistar novas gerações que nem têm idade pra saber ao certo o que era uma videolocadora.
Na trama, a universitária Stefani Reyes (Kaitlyn Santa Juana) tem sido assombrada por um pesadelo recorrente: um acidente numa luxuosa torre de observação envolvendo as mortes de dezenas de pessoas. Aos poucos, a jovem descobre que trata-se de uma premonição tida por sua avó cerca de 60 anos antes. Na ocasião, a visão salvou todas as pessoas presentes, mas também as colocou na lista da Morte. No decorrer dos anos, os numerosos sobreviventes foram um a um reclamados pela Morte, porém não antes de terem constituído famílias… que nunca deveriam ter existido! Com o falecimento da avó de Stefani, a Morte agora tem como alvo todo o restante da sua árvore genealógica.
Rodado em 2023, no Canadá, o novo lançamento da Franquia ''Premonição'' chega após 14 anos
Finalmente livre dos insuportáveis maneirismos da era do Cinema 3D que deixaram a franquia bastante engessada nos seus capítulos 4 e 5, Premonição volta à boa forma com a melhor cena de abertura de toda a saga e sequências de ação muito bem orquestradas. Com novos potenciais traumas para o público (cujo território de fobias talvez agora também passe a envolver caminhões de lixo e câmaras de ressonância magnética), Premonição 6: Laços de Sangue eleva os riscos e aprofunda o impacto emocional do perigo ao incluir uma família como alvo da Morte, estabelecendo consequências muito mais chocantes para os personagens, fórmula parecida com o que ''A Morte do Demônio: A Ascensão'' fez com a franquia criada por Sam Raimi nos anos 1980. Ainda que por projeção ou simplesmente expectativa, a tensão desta vez carrega uma camada mais sentimental, com uma trama construída inicialmente como um drama familiar antes do massacre propriamente dito começar. Contudo, o longa nunca se afasta muito do fator diversão, apresentando grandes doses do humor perverso que o público ama há duas décadas. A escala da violência choca pela explicitude de sua brutalidade e também pelo capricho gráfico dos efeitos (que são mais convincentes do que os vistos nos filmes anteriores, mas ainda exagerados o suficiente pra fazer rir, nem que seja de agonia).
Trailer
Ficha Técnica
Título original e Ano: Final Destination Bloodlines, 2025. Direção: Zach Lipovsky e Adam B. Stein, 2025. Roteiro: Guy Busick e Lori Evans Taylor com argumentos de Jon Watts, Guy Busick e Lori Evans Taylor - baseado nos personagens criados por Jeffrey Reddick. Elenco: Tony Todd, Anna Lore, Brec Bassinger, April Telek, Richard Harmon, Teo Briones, Rya Kihlstedt, Max Lloyd-Jones, Kaitlyn Santa Juana, Alex Zahara, Gabrielle Rose e Owen Patrick Joyner. Gênero: Terror. Nacionalidade: EUA, Candá. Trilha Sonora Original: Tim Wynn. Fotografia: Christian Sebaldt. Edição: Sabrina Pitre. Design de Produção: Rachel O'Toole. Figurino: Michelle Hunter. Empresas Produtoras: Inzine Media, New Line Cinema, Practical Pictures, Québec Production Services Tax Credit e The Fusion Media. Distribuidora: Warner Bros. Pictures Brasil. Duração: 01h50min. Classificação 16 anos.
O número “6” do título brasileiro está lá por motivos puramente comerciais, mas não se deixe enganar: não se trata de uma sequência de Premonição 5, servindo mais como uma expansão de um universo já familiar, mas sem ligação narrativa com os outros capítulos da franquia. O único elemento que conecta este sexto filme aos anteriores é a presença do incrível Tony Todd, falecido em 2024, no último filme de sua carreira. Em sua curtíssima participação, rouba a cena e emociona sem fazer esforço.
Com todos os elementos de um bom slasher e uma trama coesa que se estabelece como uma narrativa completa e não apenas mais um capítulo descompromissado de uma franquia, Premonição 6: Laços de Sangue se destaca ao reinventar uma fórmula de mais de 20 anos que já soava repetitiva. É um banho de sangue brutal que por vezes se permite soar leve e até esperançoso, mas, acima de tudo, imensamente divertido!
HOJE NOS CINEMAS
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