“Minha mãe sempre dizia: ‘quando nada mais funcionar, tente o amor – e sempre mantenha uma arma dentro da bolsa’!”
Se não fosse a insistência em se associar ao personagem Mickey Mouse – e, precisamente, ao curta-metragem “O Vapor Willie” (1928, de Ub Iwerks) enquanto enredo de formação de protagonista vilanaz –, este filme seria menos desinteressante. Ou, dizendo de outra maneira: quando a trama se rende descaradamente às fórmulas dos ‘slasher movies’, até que consegue ser minimamente divertido. Não obstante ser mal dirigido e sobremaneira escuro, além de aderir a uma montagem problemática em seu sobejo de cortes, os atores se esforçam para transmitir alguma credibilidade, nalgo que, desde a sinopse, revela-se como estapafúrdio…
A quase totalidade do filme passa-se no interior de uma balsa, num trajeto noturno, saindo da cidade de Nova York: Selena (Allison Pittel), uma estudante de Moda, aceita o convite de seu pretendente romântico Pete (Jesse Posey) para esconder-se na referida balsa, depois que ela é perseguida por um quarteto de jovens fúteis, que comemoram o aniversário de uma delas e aproveitaram-se dos serviços de Selena enquanto garçonete ocasional. Ocorre que, neste veículo, o rato de grandes proporções Willie (David Howard Thornton) é libertado, acidentalmente, do fosso em que ele ficou aprisionado por vários anos, e deseja vingança…
Assassinando indiscriminadamente a todos que encontra pela frente, Willie estivera naquela balsa desde que ela era um barco a vapor, no início do século XX, quando ele foi resgatado por um capitão bem-intencionado do local onde era submetido a experimentos científicos. E, assim, de maneira forçada, é justificada a sua fúria incontrolável, bem como a simpatia que demonstra por Selena, já que ela parece com a sua namorada Minnie…
Em determinado momento, Selena constata esta similaridade fisionômica, e tenta aproveitar-se disso para fugir da sanha malévola de Willie, que chega a eletrocutar vários passageiros, de uma só vez, num determinado cômodo da balsa. Entre os sobreviventes, estão a paramédica Amber (Amy Schumacher) e o garotinho Matteo (Rumi C. Jean-Louis), que se unem a Selena e Pete para tentarem sobreviver.
O roteiro deste filme, co-escrito pelo próprio diretor, possui um humor óbvio e pretensamente satírico, que, entre vários temas, zomba dos comportamentos imbecilizados de alguns “influenciadores digitais”, sendo perturbadoramente engraçada a seqüência em que duas jovens são empaladas através da boca, enquanto coreografam dancinhas para as redes sociais. Mas o enredo não se sustenta, sobretudo quando insiste nas conexões desnecessárias com o Universo Disney, como algumas falas de filmes famosos (“tu consegues sentir o amor, hoje à noite”, por exemplo) e a trilha musical assobiada do referido “O Vapor Willie”. O diretor Steven Lamorte não precisava disso, mas não se desvencilha de equívocos semelhantes aos que levara a cabo no filme em que parodia, sem autorização de seu autor, a história do Grinch (vide texto aqui).
Trailer
Ficha Técnica
Título original e ano: Screamboat, 2025. Direção: Steven LaMorte. Roteiro: Matthew Garcia-Dunn, Steven LaMorte. Kailey Hyman, Mike Leavy, Jesse Kove, Brian Quinn, Joe DeRosa, Tyler Posey, Jarlath Conroy. Elenco: David Howard Thornton, Allison Pittel, Jesse Posey, Amy Schumacher, Kailey Hyman, Mike Leavy, Jesse Kove, Brian Quinn, Joe DeRosa, Tyler Posey, Jarlath Conroy. Gênero: Trash, terror. Nacionalidade: Estados Unidos da América. Direção de Fotografia: Steven Della Salla. Trilha Sonora Original: Charles-Henri Avelange, Yael Benamour. Edição: Patrick Lawrence. Produção: Steven LaMorte, Steven Della Salla, Martine Melloul, Amy Schumacher. Empresas Produtoras: Sleight of Hand Productions, Reckless Content, Fuzz on the Lens Productions, Kali Pictures. Distribuição: Imagem Filmes. Duração: 01h42min.
Para além dos inúmeros defeitos estruturais deste filme, insistimos: ele não é tão ruim quanto aparenta ser – inclusive, de propósito. Para quem está acostumado às franquias cinematográficas sobre mortes cumulativas de adolescentes e/ou de pessoas abobalhadas, “Screamboat – Terror a Bordo” (2025) demonstra-se como “mais do mesmo”, porém entretenedor ao seguir a cartilha eliminatória dos personagens: o modo como eles são decapitados, mordidos, esfaqueados e/ou torturados possui algum fascínio para os aficcionados pelo subgênero de terror.
No trecho final do filme, o enredo de formação insere um suposto poder hipnótico a Willie, que consegue convencer uma funcionária da balsa a auxiliá-lo em seus propósitos crudelíssimos. Nos créditos finais, há o aviso de que “Willie e Minnie retornarão” em filmes vindouros, garantindo a feitura de uma continuação, para os espectadores que esperaram até este derradeiro instante. Há um público-alvo assaz definido para este trash cinemático e, se formos exitosos na tarefa de não levar a sério o que acontece, talvez concordemos que, mais uma vez, tal obra não é tão horrenda quanto se esperava. Trata-se de um sintoma cabal das tendências enredístico-discursivas contemporâneas e, por isso mesmo, merecedora de análise e algumas observações. Eis o nosso parecer!
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