Rita Lee é um ser iluminado de mil fases. Ora ovelha negra, ora erva venenosa, às vezes doce vampiro, essa mutante brilhou nas terras do Brasil tropicalista e roqueiro desde seu nascimento, em 31 de dezembro de 1947, na cidade de São Paulo, até sua passagem para os céus dos anos modernos e transgressores, em 08 de maio de 2023, nessa mesma metrópole cinzenta que ela deixou muito colorida em vida.
O documentário Ritas, dirigido a duas mãos por Oswaldo Santana e Karen Harley, é uma linda e merecidíssima homenagem a essa diva da música brasileira. Abarcando, em entrevistas concedidas pela própria musicista, toda sua trajetória nos palcos desde sua passagem pelo grupo Mutantes até sua consagração definitiva como a grande roqueira do país, o filme, em sua duração de uma hora e meia, é uma elegia à todas essas Ritas, esses mil rostos de uma mesma artista, irreverente, talentosa e surpreendente.
Em paralelo com as entrevistas, imagens de arquivo da televisão também ajudam a contar essa história fascinante. E, entre falas e excertos de shows, programas humorísticos e outros, o espectador revê com saudosismo as canções imortalizadas pela cantora, em performances de palco inesquecíveis. Consagrada em vida pelos medalhões da música popular brasileira, seus duetos com Gilberto Gil, Maria Bethânia, João Gilberto, Caetano Veloso corroboram a importância e prestígio da cantora.
Os momentos mais emocionantes, porém, são suas performances com o marido Roberto de Carvalho. O amor entre os dois gerou verdadeiras pérolas do cancioneiro nacional, lindas músicas que reafirmam a paixão que os unia. 'Mania de Você', 'Amor e Sexo', etc, ajudam a contar e cantar essa união. Os dois, velhinhos, na sua chácara, são enternecedores. Como é reconfortante vê-los na tela grande do cinema, jovens ou velhos, mas sempre com muita cumplicidade.
O longa recebeu pré estréias em São Paulo, Rio de Janeiro e Salvador nesta última quarta-feira 21 de maio
Mas só homenagens e elogios não fazem quem está assistindo conhecer mais destas várias Ritas, da Rita real. O problema de se ter uma direção de fãs declarados é não se permitir o contraditório. Falta a visão do outro lado, da outra face. Os fantasmas e angústias que a própria cantora admite que lhe assombravam em um trecho de entrevista não são aprofundados. Esse mergulho na alma da artista não aparece no recorte do longa-metragem.
Com fotografia e edição frenéticas e ágeis, essa linda homenagem faz jus à essa artista tão solar. Sua vida é um exemplo para muitas pessoas. Sua lucidez e bom humor fazem o fã rir em muitos momentos. O detalhe de faltar aquele mergulhar incontido na alma, aquele desnudamento total que permite vislumbrar de maneira mais concreta a artista e pessoa magníficas que foram a Rita, não tirará a experiência fascinante que é relembrar a artista com olhos entusiasmados de fã. O aprofundamento é um tema para um próximo filme, que com certeza também atrairá público às salas de cinema. Enquanto isso, se deslumbrar e rememorar suas maravilhosas canções é um grande prazer!
Trailer
Ficha Técnica
- Título Original e Ano: Ritas, 2025. Direção: Oswaldo Santana. Codireção: Karen Harley. Roteiro: Oswaldo Santana, Karen Harley, Fernando Fraiha. Pesquisa: Antônio Venâncio e Eloá Chouzal. Entrevistas e material de arquivo: Gilberto Gil, Rita Lee, Marilia Gabriela, Hebe Camargo, Fernanda Young, Marisa Orth, Beto Lee, Caetano Veloso, Naila Skorpio, Mônica Waldvogel, Ary França, Sérgio Dia, Arnaldo Baptista. Gênero: Documentário, Biografia. Nacionalidade: Brasil. Montagem: Oswaldo Santana, AMC. Fotografia: Janice d’Avila. Arte: Ricardo H Fernandes.Animação: Gabriel Bitar. Desenho de Som: Fernando Henna, Henrique Chiurciu. Estúdio de Som: Confraria de Sons & Charutos. Mixagem: Daniel Turini, Fernando Henna. Colorista: José Francisco Neto, ABC. Coordenação de Pós-Produção: Beto Bassi. Estúdio de Imagem: DOT Cine. Produção Executiva: Anatalia Lyro, Beatriz Modenese e Isa Colombo. Produtor Associado: João Macedo. Produção de Distribuição: Barbara Sturm. Produção: Bianca Villar, Fernando Fraiha, Karen Castanho. Distribuição: Biônica Filmes e codistribuição Paris Filmes. Duração: 01h23min.
Outro documentário sobre Rita Lee chegou ao streaming nos últimos dias (Rita Lee, Mania de Você, de Guido Goldberg, MAX Brasil) e um projeto dramático, também produzido pela Biônica Filmes está em andamento e contará a vida da cantora nas telas de forma ficcional.
Nota: 6/10.
HOJE NOS CINEMAS
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