Manas, de Marianna Brennand

 
Depois de dirigir dois longas documentários que não furaram a bolha de festivais e do pequeno-circuito, a brasiliense Marianna Brennand decidiu dirigir sua primeira ficção. A motivação foi bem embasada. A diretora afirmou em entrevistas que a abordagem documental para o tema do abuso sexual infantil incorreria no risco de expor e traumatizar ainda mais as vítimas. Portanto, o que acompanhamos no filme Manas, trata-se de uma ficção embasada em muita pesquisa.

Tiele (Jamilli Correa), de treze anos, mora com três irmãos, o pai (Rômulo Braga) e a mãe grávida (Fatima Macedo) em uma comunidade ribeirinha na ilha de Marajó, no Pará. A vida não é fácil. A protagonista frequenta uma escola daquelas que une crianças de várias idades e séries em uma mesma sala, anota seus deveres em um caderno costurado por ela mesma, dorme em uma rede no barraco de cômodo único que divide com a família e colhe o açaí que, junto com a farinha, é o ingrediente principal nas refeições do dia-a-dia.

No entanto, enquanto sua mãe carrega no semblante o peso da rotina árdua, Tiele é risonha e não parece achar ruim a vida que leva. Entre as tarefas domésticas e o estudo, há tempo para brincar com a irmã mais nova, para ver novela com as demais crianças da escola, conversar com sua melhor amiga Cynthia (Samira Eloá) e dançar na igreja. A convivência com a família é tranquila e o pai, carinhoso, proporcionando vários momentos lúdicos em contraponto com a mãe, que é sempre sisuda.

Crédito de Imagens: Inquietude/Paris Filmes - Divulgação
O longa já acumula nove vitórias em Festivais de Cinema e mais duas indicações. Na última edição da Mostra Internacional de São Paulo recebeu o prêmio da crítica como ''Melhor Filme Brasileiro''. Em Veneza, recebeu o prêmio ''''.

Portanto, quando Marianna Brennand dá indícios no roteiro e na cinematografia do que está prestes a acontecer, temos vontade de pausar o filme e congelar a vida de Tiele naquele momento, antes que ela tenha a infância usurpada pelo abuso. E não há termo melhor para empregar do que esse. A partir do momento em que é violada a primeira vez, a menina parece perder toda a alegria e inocência, aceitando inclusive começar a se prostituir para ajudar no sustento da casa.

A diretora é muito respeitosa com as atrizes e espectadoras ao contar a história e mostra a expertise de sua linguagem cinematográfica ao deixar muito claro o que está acontecendo sem precisar ser gráfica, tanto na violência sexual quanto na violência física. O elenco infantil está incrível em tela e demonstra uma unidade e sutileza que poucos filmes são capazes de entregar.

Trailer


Ficha Técnica
Título Original e Ano: Manas, 2025. Direção: Marianna Brennand. Roteiro: Felipe Sholl, Marcelo Grabowsky, Marianna Brennand, Antonia Pellegrino, Camila Agustini e Carolina Benevides. Elenco: Jamilli Correa, Fátima Macedo, Rômulo Braga, Dira Paes, Emilly Pantoja, Samira Eloá, Enzo Maia, Gabriel Rodrigues, Ingrid Trigueiro, Clébia Souza, Nena Inoue e Rodrigo Garcia. Gênero: Drama. Nacionalidade: Brasil e Portugal. Direção de Fotografia e Câmera: Pierre de Kerchove, ABC. Som direto: Valéria Ferro. Montagem: Isabela Monteiro de Castro. Direção de Arte: Marcos Pedroso. Figurino: Kika Lopes. Caracterização: Luiz Gaia. Supervisão de edição de som: Miriam Biderman, ABC. Edição de som: Ricardo Reis, ABC. Mixagem: Armando Torres Jr., ABC. Direção de elenco: Anna Luiza Paes de Almeida. Preparação de elenco: René Guerra. 1ª Assistente de Direção: Kity Feo. Produção Executiva: Carolina Benevides e Marcelo Maximo. Produção: Carolina Benevides e Marianna Brennand. Produtores Associados: VideoFilmes, Maria Carlota Bruno e Walter Salles; Jean-Pierre e Luc Dardenne, Les Films du Fleuve, Delphine Tomson; Dominique Welinski, Marcelo Pedrazzi, Braulio Mantovani; Felipe Sholl, Marcelo Grabowsky, Marcelo Máximo. Coprodutores: Globo Filmes, Canal Brasil, Pródigo e Fado Filmes (Portugal). Produtora: Inquietude. Distribuidora: Paris Filmes. Duração: 01h41min.

Infelizmente, a personagem de Dira Paes é o elemento mais frágil da obra. Enquanto ela é somente uma funcionária do mutirão que emite documentos para a população ribeirinha, apresenta um ponto de conforto na trama e tem uma cena bonita com Tiele. Porém, quando ela retorna como delegada de polícia, chega trazendo para a história um tanto de didatismo. Pensando em termos mercadológicos, é fácil entender que tanto o nome de uma atriz laureada quanto esse aspecto de cartilha são bem vindos. Mas em termos artísticos, dá uma empobrecida no longa.

Mas esse aspecto não chega a estragar a experiência. O resultado final é muito sensível e comovente e ver o norte do país nas telonas é sempre uma delícia, principalmente quando o sotaque da maioria dos atores é genuíno. Inclusive, a graça com que as meninas pronunciam a palavra “mana” pode arrancar um sorriso de canto de boca em cada uma das vezes que o espectador notar tal detalhe.

HOJE NOS CINEMAS

Escrito por Luana Rosa

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