Wes Anderson, o rei da assimetria cinemática, está de volta as telas de todo o mundo com seu mais novo filme: ''O Esquema Fenício''. A trama é situada, em 1950, em uma nação fictícia do Oriente Médio, conhecida como 'Fenícia Moderna Maior Independente', inspirada na antiga civilização fenícia, e que se torna parte de um esquema/plano de renda multifacetado bolado pelo Milionário Zsa-zsa Korda, papel do oscarizado Benicio del Toro, para que o seu legado seja lembrado pelas futuras gerações e a cidade se torne ainda mais industrializada gerando muito lucro ao homem. O que Zsa-zsa, contudo, precisa resolver é sua relação com a filha do primeiro casamento, Liesl, interpretada por Mia Threapleton. Com uma vida dedicada a devoção cristã, a moça não teve contato com o pai até o momento em que ele decide a retirar do convento e fazer com que ela o acompanhe na missão de conseguir apoio ao seu super projeto industrial - e um que dará a herdeira anos e anos de renda. Por se tratar da filha mais velha, os outros inúmeros filhos são então poupados da vida com o pai, apesar deste dar aos jovens a mentoria de Bjorn, vivido por Michael Cera. O homem tem passado por um grande tormento que são as inúmeras tentativas de assassinato que lhe são acometidas durante seus voos particulares tentando chegar até reis e príncipes para fechar alianças comerciais e a película trata de dar à ele mais e mais chances de vencer seus inimigos, tal qual seu irmão Nubar, papel de Benedict Cumberbatch, ou uma tropa de bancários e servidores públicos norte-americanos que são liderados por Excalibur (um Rupert Friend totalmente sem sotaque britânico) e querem intervir no esquema, pois acreditam que ele seja um mau a ser extirpado da face da terra.
Apresentando uma narrativa cheia de camadas e que aborda temas como dinâmicas familiares, vida e morte, pós-morte, crenças espirituais e uma ferrenha crítica ao mundo dos bilionários e ao capitalismo, O Esquema Fenício é um filme com todo o rigor e precisão de Wes Anderson, mas é também uma película com uma trama absurda de inteligente e distinta de outras que ele já trouxe ao mundo.
O texto é assinado por Anderson e Roman Coppola, marcando a sexta parceria de co-autoria entre os artistas. Ambos que, aliás, partem de histórias pessoais de suas esposas ou a relação com as filhas mulheres para escreverem o roteiro. A produção contou com sessões durante o Festival de Cannes, nas últimas semanas, e tem data de estreia na próxima sexta-feira, 06 de junho, nos Estados Unidos.
A filha da atriz Kate Winslet, Mia Threapleton, está em seu décimo papel e entrega uma performance comedida e a altura dos personagens e filmes de Wes Anderson
Benicio del Toro trabalha com o diretor Wes Anderson pela segunda vez, assim como Tom Hanks e Bryan Cranston, que estão no filme como a dupla 'Leland' e 'Reagan', parceiros de negócios de Zsa-Zsa e uma que até joga basquete em momentos de tomadas de decisão para auxiliar no processo. Outro que iniciou sua parceria com o cineasta em ''A Crônica Francesa'' (2021) e retorna para mais um papel rebuscado é Jeffrey Wright que vive o investidor de fala rápida e líder de Sindicato 'Marty' e ao encontrar o milionário até o oferece uma transfusão de sangue, visto que Zsa-zsa também tem a mania intrigante de oferecer a quem quer que encontre 'uma granada', uma tática conveniente ao homem, visto os inúmeros atentados contra sua vida.
Uma das camadas que o humor sombrio de Wes leva o espectador a experimentar neste novo filme é 'a visita ao andar divino'. Os momentos de quase morte do milionário são evidenciados e terminados em segundos, mas em certos takes se é possível ver a figura de DEUS, papel do sempre necessário Bill Murray, ou um velho vigarista, na pele deste Willem Dafoe, evidenciando um menino morto em um caixão, e ainda as figuras de suas três ex-esposas que foram mortas, dizem por ai, por ele mesmo. Uma delas, inclusive, é vivida pela maravilhosa Charlotte Gainsbourg. O homem também arranja um entre-laço matrimonial com a prima Hilda (Scarlett Johansson dando o ar das graças) e mal sabe ele que alguém muito próximo não é exatamente quem ele acredita ser, revelação pitoresca que acontece em meados da película e representa mais um traço da escrita de Anderson. Ademais, os personagens ficam com a dúvida se Liesl é realmente filha do ricaço, devido a possível relacionamento que ocorreu no passado entre sua mãe e seu tio Nubar.
Trailer
Ficha Técnica
- Título Original e Ano: The Phoenicia Scheme,2025. Direção: Wes Anderson. Roteiro: Wes Anderson e Roman Coppola. Elenco: Benicio Del Toro, Mia Threapleton, Michael Cera, Riz Ahmed, Bryan Cranston, Tom Hanks, Charlotte Gainsbourg, Antonia Desplat, Antonia Schröter, Bill Murray, Scarlett Johansson, Rupert Friend, Willem Dafoe, Jeffrey Wright, Benedict Cumberbatch, Richard Ayoade, Mathieu Amalric, Donald Sumpter, F. Murray Abraham, Steve Park, Truman Hanks. Gênero: Comédia, Espionagem, Aventura, Drama. Nacionalidade: EUA, Alemanha. Trilha Sonora Original: Alexandre Desplat. Edição: Barney Pilling. Fotografia: Bruno Delbonnel. Direção de Arte: Esther Schreiner. Figurino: Milena Canonero. Design de Produção: Adam Stockhausen. Empresas Produtoras: American Empirical Pictures, Indian Paintbrush, Focus Features, Studio Babelsberg. Distribuição: Universal Pictures Brasil. Duração: 01h41min.
Sendo o protagonista um bilionário ambicioso e sem coração, a perseguição em massa que este sofre vem cheia de artimanhas e com inúmeras reviravoltas, algumas afetando ou não inocentes, como trabalhadores que ele tem em seu escopo e acabam morrendo nos acidentes provocados para atingi-lo. Mas do que isto, se fala do alto teor de 'visão industrial' e de como este é muitas vezes levado não pelo desenvolvimento de sociedades, mas sim para beneficio próprio de homens já muito ricos. Zsa-Zsa tem todo um estilo arrogante, mas consegue, em algum nível, trazer certa simpatia pela sagacidade e persistência ao sobreviver, ainda que anunciem constantemente sua morte nos jornais. O reencontro com a filha e a jornada de reconstrução de algum tipo de relação é bem vindo e ilumina grande parte da corrida por seu quase resto de vida. Por ser noviça, a personagem acaba tendo menos ódio do pai do que outros personagens podem apresentar e consegue ser resistente aos ideais deste até certo ponto. No entanto, a própria Igreja, ao receber doações do homem, livra a menina da vida como freira. Assim, o filme acaba por trazer relações de status e poder com um sabor sem igual.
Anderson e Coppola entregam uma história pra lá de inusitada, mas com certo pé na realidade. O detalhamento para figurino e todo departamento de direção de arte é com muita certeza algo que toma tempo a produção, mas que revela a beleza destas histórias estranhas e excêntricas que ganhamos com o maior primor. Esta é a primeira vez em muitos anos que o fotografo Robert D. Yeoman não vem ao lado do diretor e Bruno Delbonnel assume a função com honras e o trabalho é impactante.
Para os fãs de Wes Anderson, tem se mais um belo filme, com ótimas aventuras e desventuras. Para o cinéfilo comum, o filme talvez não entregue novidade, principalmente, se este for crente de que não há nada novo aqui. E, pelo, contrário, sempre há.
Avaliação: Quatro viagens artísticas (4/5).
EM EXIBIÇÃO NOS CINEMAS
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