GOAT, de Justin Tipping

 
O pequeno Cameron Cade (Austin Pulliam) está assistindo Futebol Americano na TV com o pai quando o jogador principal da partida, Isaiah White (Marlon Wayans), sofre uma fratura em campo. Absolutamente traumatizado pelo evento, o garoto desvia o olhar da tela, porém o pai o força a ver a cena e o alerta de que não existe glória sem dor. Os anos passam e "Cam" (agora interpretado por Tyriq Withers) se tornou uma proeminente promessa do futebol americano, enchendo a família e a namorada de orgulho. Ele sempre norteia as próprias ações baseado no que o pai lhe ensinou enquanto era vivo.

Quando começa a surgir a especulação da aposentadoria de Isaiah White (Marlon Wayans), Cade é convidado para um lugar isolado onde Isaiah treina com sua equipe e ele vê nisso uma oportunidade para assumir o posto de "greatest of all time", expressão em inglês que gera o acronimo "GOAT" do esporte e significa “o maior de todos os tempos”. A premissa com nuances de filme de horror é muito inventiva e talvez nas mãos certas teria entregado algo grandioso como o recente fenômeno "A Substância", porém não é isso que acontece.

O longa tem produção da Monkeypaw Productions, a mesma responsável por "Nope" (Jordan Peele, 2022) e "Corra!" (Jordan Peele, 2017) e começou a ser distribuido, em diversos países, ainda nas primeira semanas de setembro.

                                         Crédito de Imagens: © 2025 Universal Studios.
O diretor Justin Tipping tem uma filmografia permeada de conduções de séries de teve e clipes musicais


A direção de Justin Tipping (Kicks: Defendendo o que é seu, 2016) consegue estabelecer o clima de estranheza e sabe criar tensão em cenas que parecem querer flertar com o horror corporal. É impossível não ficar com uma pulga atrás de orelha diante de tantas situações estranhas de coaching, treinos descabidos e uso de substâncias desconhecidas. O próprio método de treino não convencional indica que algo muito estranho está em curso. O uso de ambientes fechados e claustrofóbicos ditam a sensação de cárcere voluntário que o protagonista se encontra. A bem da verdade, o filme acerta em muitos desses pequenos hints mas falha miseravelmente em conduzir essa tensão através da narrativa. Não há uma escalada entre os eventos que se sucedem ali, os diálogos do roteiro escrito por Skip Bronkie, Zack Akers e Tipping são fracos e rebaixam o nível das atuações a uma situação de vergonha alheia.

A atuação de Marlon Wayans, por exemplo, é um completo desastre e está totalmente fora de sintonia com o tom do filme. O mesmo pode ser dito de Julia Fox, que interpreta Elsie, a namorada influencer de Isaiah. A personagem parece uma mistura de mal feita e caricata de celebridade com zumbi. Naomi Grossman vive Marjore, a fã maluca de Isaiah, e protagoniza bons momentos de estranheza junto com seu séquito. Ademais, se destaca por uma perfomance potente, mesmo com apenas três ou quatro linhas de diálogo.

As cenas de tensão sempre prometem mais do que entregam. O filme parece ter medo de se jogar de vez no horror corporal e no gore que estão intrínscecos à sua proposta, perdendo, dessa forma, a chance de chocar quando é necessário. E quando tenta fazê-lo, é sempre de forma fraca e ineficaz. Há até mesmo o uso pavoroso de um filtro preto e branco pra amenizar cenas de autodestruição e sanguinolência. Para um filme que pretende provocar e horrorizar o espectador sobre a violência no futebol americano, esta parece ser uma realização um tanto quanto covarde.

Trailer

Ficha Técnica
  • Título original e Ano: Him, 2025. Direção: Justin Tipping. Roteiro: Zack Akers, Skip Bronkie e Justin Tipping. Elenco: Marlon Wayans, Tyriq Withers, Julia Fox, Tim Heidecker, Jim Jefferies, Don Benjamin, Maurice Greene, Naomi Grossman, Austin Pulliam, Guapdad 4000, Tierra Whack. Gênero: Terror, Suspense esportivo, Thriller psicológico. Nacionalidade: Estados Unidos da América. Fotografia: Kira Kelly. Edição: Taylor Joy Mason. Trilha Sonora Original: Bobby Krlic. Figurino: Dominique Dawson. Design de Produçãao: Jordan Ferrer. Produção: Monkeypaw Productions. Produtores: Jordan Peele, Win Rosenfeld, Ian Cooper, Jamal Watson. Produção Executiva: David Kern, Kate Oh. Distribuição: Universal PicturesBrasil. Duração: 1h36.
 
O terço final comete o clássico erro de filmes de terror ao explicar as motivações vilanescas dos personagens, tirando todo o peso da construção de tensão anterior na narrativa (que já não tinha sido das melhores). A cena final em particular faz uma alusão aos gladiadores do coliseu e entrega momentos, diálogos e situações constrangedoras que farão qualquer pessoa sã revirar os olhos. Aquilo que deveria ser um ponto de virada na construção do protagonista se converte em atitudes que parecem surgir do absoluto nada. Certamente existiu um ruído na comunicação entre o ator principal e a direção, ou, mais provável, um roteiro que não deu bases suficientes para o que estava por vir.

Munido por uma excelente ideia, Goat (Him) tropeça na execução de suas estranhezas quando não abraça aquilo que foi pensado pra ser. Envolto por atuações irregulares e um final que não casa com o resto da narrativa, o longa entrega sequências e diálogos pavorosos em uma evidente ideia que não foi bem maturada. Porém é inegável o talento do diretor em apresentar camadas de descorto. Quem sabe com um bom roteirista ao seu lado não poderemos ver no futuro próximo um bom terror dirigido por ele.

HOJE NOS CINEMAS

Escrito por Júnior Ribeiro

    Comentários Blogger
    Comentários Facebook

0 comments:

Postar um comentário

Pode falar. Nós retribuímos os comentários e respondemos qualquer dúvida. :)