Novo filme de Michel Franco (Memória, 2023), "Sonhos" conta com boas atuações de seus protagonistas, mas soa perdido nas suas pretensões. Por desejar ser um thriller erótico, um drama romântico convencional e dar pinceladas de comentários sociais, acaba soando vazio.
Fernando, personagem de Isaac Hernández, é um jovem dançarino mexicano que atravessa a fronteira. O filme se inicia com o personagem, junto com dezenas de outros imigrantes, preso num caminhão abandonado num lugar deserto. Depois de horas presos, os imigrantes são libertados e Fernando recomeça sua jornada. Entre caronas, fugas e desvios, ele chega à São Francisco, onde mora Jennifer, vivida por Jessica Chastain. A direção de Franco, nesse primeiro momento, nos leva em movimento com o personagem, a curiosidade pela determinação de seus passos, sua vontade de chegar em um lugar.
Ao se encontrarem, Jennifer e Fernando transam, por vezes as cenas de sexo se assemelham com uma dança, um balé performado pelos dois personagens que se entregam ao desejo. Jennifer é filha de Michael McCarty, interpretado por Marshall Bell, ela é uma filantropa que, meses antes, havia aberto uma escola de dança no México e se apaixona por Fernando. Em determinado momento parece que o filme começou do meio, mas as peças vão se encaixando à medida que o tempo passa.
A relação dos dois começa muito bem, mas Fernando nota que ele está ali como um segredo de Jennifer. Ela o esconde de seu irmão, Jake McCarty, papel de por Rupert Friend, do seu pai, e dos amigos de negócio. O dançarino se revolta com a situação e sai da casa da filantropa. Jennifer fica devastada, ela procura por ele, que a evita e foge do olhar dela.
O longa teve um janela permeada de estréias comerciais e participações em Festivais de Cinema desde fevereiro deste ano. O último pais a contar com exibição de "Sonhos" será a Turquia em maio do ano que vem.
E sobre o olhar, vale notar como a câmera olha para o corpo de Fernando. Atlético e definido pelos exercícios, a câmera de Michel Franco, mesmo quando a dona do olhar, Jennifer, não está presente, parece fascinada com seu corpo. Afinal, se Jennifer só o tinha como um objeto, algo para se usar, para ter prazer, a câmera seguiria esse comando. Isso poderia ser bem trabalhado junto do roteiro, mas o filme não consegue aprofundar essa ideia para a tela, é frustrante ter uma película que não consegue comunicar uma ideia de forma interessante.
Abordar questões de gênero, raça e nacionalidade no longa é, num primeiro momento, chamativo, mas a produção é tão apática e genérica no desenvolvimento das ideias, além de uma direção nada inspirada e muito procedimental, que passa a ser entediante acompanhar o vai-vem desse casal. Até que o diretor resolve chocar com o final, e aí a coisa fica muito pior do que já estava.
Jennifer e Fernando têm idas e vindas, o dançarino que ser assumido, mas a mulher nunca anuncia com todas as letras, parece sempre com medo de se expor. Ela conta para pessoas de menor importância, mas nunca para a alta sociedade. Fernando se magoa com isso, mas ama a toda poderosa e, nesse ponto, está determinado a deixar isso um pouco de lado para que possam viver esse amor. Em determinados momentos do enredo, Jennifer chega a falar que gostaria de ser feliz como foram no México, enquanto ela esteve coordenando a construção da Escola de Dança. Há algo quebrado na relação deles, o momentum, o lugar, algo impede eles de serem felizes.
Apesar de pouco intrigante, até esse momento o filme se comportava como o esperado, mas é no ponto em que Fernando é admitido numa escola de dança em São Francisco e, logo depois, deportado, que Michel Franco, também roteirista, toma as piores decisões possíveis.
A forma com que o diretor filma violência sexual é, pela falta de palavra melhor, abjeta. Há uma fetichização daquele ato, uma dança macabra toma parte da cena, e pior, coloca em equivalência atitudes tomadas pela personagem com a violência sofrida. É terrível de assistir porque, além da fetichização, o roteiro de Franco parecia não saber para onde caminhar e foi para o mais completo absurdo. Nenhuma construção prévia levava até aquele ponto.
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Ficha Técnica
Título Original e Ano: Dreams, 2025. Direção e Roteiro: Michel Franco. Elenco: Jessica Chastain, Isaac Hernandez, Rupert Friend, Julio Bernal, e Marshall Bell. Gênero: Romance. Nacionalidade: México, Estados Unidos da América. Edição: Óscar Figueroa e Michel Franco. Fotografia: Yves Cape. Designer de Produção: Alfredo Wigueras. Figurino: Mitchell Travers. Empresas Produtoras: AR Content, Eastern Film, Freckle Films, Teorema. Distribuidora: Imagens Films. Duração: 01h35.
Por fim, é um filme com uma das direções menos inspiradas do ano, talvez perca até mesmo para a novela da TV Globo "Vale Tudo" (2025), dirigida por Paulo Silvestrini. Um filme desinteressante e desinteressado, que parece querer apenas o choque vazio ao final, trazendo uma falsa equivalência de uso dos corpos e objetificação, de culpa e responsabilidade.
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